No sertão da Bahia, um pobre casal estava esperando seu sétimo filho. Numa noite sombria de sexta-feira iluminada pela lua cheia, a mulher deu à luz seu sétimo filho. O menino nasceu forte e bonito.
No entanto, quando o menino completou treze anos de idade, no dia de seu aniversário, depois de soprar a velinha com um pequeno bolo feito por sua mãe, o menino saiu de casa e foi passear sozinho pelos arredores da caatinga, mas, assim que o sol caiu e a lua chegou apresentando a noite escura e sombria, o menino começou a se sentir estranho; seu corpo começara a crescer rapidamente muitos pelos em todo o seu corpo, inclusive em seu rosto que, dentro de um minuto estava completamente tomado por pelos. O menino então assustado começou a gritar, mas seu grito era como um uivo de lobo.
De repente, assim que soltou se uivo, o menino agora transformado em lobo – o menino-lobo – sentiu uma fome enorme como nunca havia sentido antes e, correndo pela caatinga, viu um saruê passar correndo à sua frente. O menino-lobo então correu atrás do saruê e dentro de um minuto estava com ele em sua boca e o destrinchou completamente até os ossos.
Depois disso o menino-lobo subiu até o alto de um morro e lá ficou a uivar e contemplar a beleza da lua cheia. No entanto, quando o sol começou a raiar, o lobisomem novamente começou a se transformar no menino que, espantado com o que havia acontecido, olhava para o seu corpo agora normal sem acreditar.
O menino então desceu o morro e voltou para a casa de seus pais que estavam sem dormir a noite toda de tanta preocupação com o menino. Ao chegar à casa de manhã com a roupa toda rasgada, seus pais brigaram muito com ele que se manteve calado o tempo todo, e posteriormente o colocaram de castigo, tendo de ficar a semana toda trancado em seu quarto, podendo sair dele somente para ir ao banheiro para fazer suas necessidades ou à cozinha para se alimentar.
O menino cresceu e de menino-lobo tornou-se o lobisomem, e toda noite de quinta para sexta-feira de lua cheia, o homem se transforma em lobo e sai pelo sertão da Bahia a caçar suas presas. Certa noite, no entanto, não encontrando nenhum animal, o lobisomem resolveu então atacar uma mulher que passava sozinha à noite pela estrada e, mordendo-a no pescoço, por um instante, reparou seu olhar de terror e, sentindo compaixão, não a matou mantendo-a viva, deixou-a ali jogada na estrada e sumiu na caatinga.
Meses depois, numa noite de sexta-feira de lua cheia, o homem subira no morro onde havia estado a contemplar a lua quando havia se transformado em menino-lobo há muitos anos atrás e, assim que o sol caiu e a lua se fez brilhante no céu do sertão, o homem se transformou em lobisomem e começou a uivar. No entanto, quando olhou para o lado viu ao longe do outro lado da caatinga uma mulher a contemplar a lua que estava nascendo; ele então desceu o morro e foi até lá. Assim que chegou ao alto do morro viu a mesma mulher que há meses havia atacado na estrada, e ela então, de repente, se transformou em mulher-lobo. Ele se espantou com aquilo e compreendeu que a mordida que ele dera em seu pescoço havia transmitido para ela a maldição do lobisomem. Ele então se aproximou dela já completamente transformada em lobo e os dois ficaram ali a noite toda a uivar à luz da lua.