Na década de 60 num quartel da Marinha, durante o expediente, os marujos rasos faziam o serviço de limpeza do rancho, faxinavam a cozinha e no pátio, aparavam a grama e pintavam de branco o meio fio. Naquele pátio, havia uma estátua de bronze de um Almirante que teria sido um herói e grande comandante daquele quartel no século XVIII. A estátua do Almirante, possuía um porte austero e um ar de muita seriedade além de sisuda feição.
O sargento que comandava os marujos rasos na faxina, então, ordenou que dois deles dessem um brilho na estátua. Pegaram então o material necessário para lavar e polir o bronze do qual era feito o monumento.
Por trás do sargento é claro, puseram-se a reclamar do serviço e um dos marujos começou a escarnecer da estátua. Apertava-lhe o nariz, dava-lhe tapinhas na bunda, amarrava pano na cabeça, enfim, desrespeitava aquele monumento que representava uma pessoa, que um dia fora um velho e importante homem, que havia sido e principalmente a patente a qual representava.
Todos riram da “brincadeira e zoação” feita pelo marujo.
Passadas as horas, na escala de serviço noturno, estava numa das guaritas do quartel, o dito marujo responsável pela “zoação” feita com a estátua. Assumiu então seu posto e exatamente às 00:00h o mesmo ouviu passos que se aproximavam dele…
Passos lentos e pesados…
Com arma em punho, no local com pouca iluminação, perguntou quem estaria ali. Não houve resposta, mas qual não foi sua surpresa, ao ver o Almirante em questão, em carne e osso, dirigindo-se a ele com um ar muito descontente.
O marujo tremia perante aquele velho lobo do mar de feições descontentes.
Ajoelhou-se e de tanto medo urinou nas calças. O Almirante empunhava um chicote e aplicou-lhe umas dez chibatadas nas costas enquanto o marujo gritava e chorava com a cabeça baixa e encolhido no chão.
Ele acordou pela manhã na enfermaria do hospital, com as costas feridas e sangrando com marcas de vergões enormes por toda região dorsal.
Contou o que houve e é claro que não acreditaram, a não ser os colegas que viram a “zoação” com aquele seu tão antigo superior.
Esse relato nos foi contado por meu avô que, como o Almirante, também fora um velho Lobo do Mar.
Por: Silvia Restani