San La Muerte é um popular santo pagão venerado no Paraguai, no nordeste da Argentina (principalmente na província de Corrientes, mas também em Misiones, Chaco e Formosa), além do sul do Brasil (especificamente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Ele também é conhecido como “Senhor da Boa Morte” e “Senhor da Morte”. Não deve ser confundido com a Santa Muerte, santa popular venerada no México, que apesar de possuir rituais e poderes semelhantes, é uma santa à parte.
Origem
A origem de San La Muerte remonta à época das Missões Jesuíticas do século XVI. Conta a lenda que este santo foi um monge franciscano ou jesuíta que curava as pessoas de várias enfermidades principalmente de Lepra. Como ele atuava de forma independente da igreja, e se tornava cada vez mais popular, seus superiores lhe advertiram inúmeras vezes para não fazê-lo. Como ele não pôs um fim em suas atividades, acabou sendo preso, e em protesto, se manteve em jejum de pé dentro de sua cela. Após um tempo, ele foi encontrado morto na mesma posição em que estivera jejuando, já completamente esquelético, vestindo seu manto e um cajado que usava para caminhar.
Representações
As representações de San La Muerte variam, mas a figura clássica é a de um esqueleto humano, de pé, com recursos simples, minimalistas. O esqueleto geralmente carrega uma foice, em alguns casos com gotas de sangue na ponta. Outras representações incluem um esqueleto de pé sem uma foice, ou sentado em um caixão.
Suas esculturas podem ser esculpidas em madeira, ossos, metal (especialmente balas) e, geralmente, se situam entre 3 e 15 centímetros de altura. O aumento dos poderes é atribuído às esculturas que são criadas a partir de materiais de origem significativa, como a falange do dedo mínimo, um osso de bebê morto, a madeira retirada do caixão de uma pessoa morta, ou um crucifixo que pertencia a alguém falecido recentemente. Outras matérias-primas mais comuns incluem madeira de cedro.
De acordo com os crentes, a escultura, a fim de ser capaz de conceder favores, precisa ser consagrada por um padre católico sete vezes. Se a escultura é esculpida em osso de um homem católico ele só precisa ser consagrado cinco vezes, pois o osso já foi consagrado duas vezes. Para obter esculturas abençoadas, os fiéis recorrem a subterfúgios, tais quais, esconder uma imagem debaixo de uma de um santo convencional. Quando um padre abençoa a imagem normal, considera-se que a outra também foi abençoada.
Além das esculturas que são normalmente mantidas em um altar ou em um lugar fixo em casa, há uma série de formas pessoais do ritual que envolvem representações na forma de amuletos e tatuagens ou no corpo sob a forma de entalhes inseridos sob a pele do fiel. Tatuagens, amuletos e inserções do corpo ofereceriam proteção especial da morte e evitariam lesão corporal e prisão. Entre os devotos, as balas disparadas, de preferência as que tenham ferido ou matado um homem cristão são consideradas matéria-prima mais eficiente para amuletos.
Culto
Para seus devotos, San La Muerte existe no contexto da fé católica e é comparável a outros seres puramente sobrenaturais como arcanjos. A devoção envolve orações, rituais e oferendas, que são dadas diretamente ao santo na expectativa do atendimento de solicitações específicas. As ofertas podem incluir sangue, bebidas alcoólicas, velas e outros objetos valiosos. O santo recebe oferendas em troca de favores relacionados a uma ampla gama de problemas pessoais. Pode ajudar a restaurar o amor, saúde e fortuna, proteger os adoradores de feitiçaria, eliminar o mau-olhado e conceder boa sorte em jogos de azar. Além desses poderes, que são comumente atribuídos aos santos populares, em geral, seria capaz de conceder uma série de pedidos que estão ligados ao crime e à violência. Por exemplo, acredita-se que o santo esquelético pode trazer a morte sobre os inimigos de seus devotos, pode impedir as pessoas de serem enviadas para a prisão e ainda encurtar a prisão de detentos, além de ajudar na recuperação de itens roubados e desviados.
Sua devoção é caracterizada por um código moral que deve ser obedecido. Seus devotos têm numerosas obrigações para com o santo. A comunicação ocorre por meio de orações que são passadas entre os crentes. O culto também se baseia na punição e submissão ao ter concedido um favor ou graça. Quando as graças são concedidas, o santo é recompensado, mas nunca totalmente, a fim de aumentar as chances dele em breve estar disposto a conceder outra graça.
Para a maioria dos devotos, o santo oferece proteção pessoal e intransferível que só será acessível para os outros quando, após a morte do proprietário original, outro adquira a sua escultura. Há também os intermediários, tais como curandeiros e médicos tradicionais que invocam o seu poder, em nome de seus clientes. Em outros casos São Morte é mantido escondido em casa, estendendo sua proteção a todos os membros da família, sem distinção. Uma série de altares públicos também pode ser encontrada. Eles são executados por devotos que atuam como guardiões de cuidadores. As festas públicas ocorrem em 15 de agosto, dia do santo. Já que não é reconhecido e incluído no calendário de santos da Igreja Católica, a data é contestada e, em alguns casos, é festejada em 13 de agosto.