Em uma época em que havia muitos viajantes e andarilhos, um desses vendedores que andam pelo mundo fazendo entregas em pequenos bares, ou botecos, vinha montando seu cavalo baio em uma noite de vento tímido em princípios de dezembro.
Ele assoviava uma milonga e, já cansado, viu de longe uma luz pequena alcançar seus olhos e resolveu segui-la.
Passou, então, a ouvir uma cantoria e o violão sendo bem dedilhado por uma mão certamente ligeira.
O vendedor apeou do cavalo, entrou em um galpão velho, viu o local cheio de gente e sentiu um cheiro delicioso de pastel caseiro que lhe trouxe um apetite macanudo.
Chegou, pediu licença, e já foi logo abraçado por um negro de calças curtas que gritou no meio do salão:
—Toca uma moda, Damásio, que chegou visita para alegrar o baile.
E tu, amigo, não te envergonha.
Convida as moças para dançar e te serve de pastel e cachaça à vontade.
O homem ficou agradecido, olhou para o canto, viu uma moça de longos cabelos negros e rosto de boneca.
Os dois dançaram uma ou duas marcas. Depois, ele pediu um café para acompanhar o pastel, trocou um dedo de prosa com uma gurizada, falaram sobre caçadas e carreiras.
Passou a noite se divertindo e fazendo novas e valorosas amizades.
Mas, o tempo passou depressa.
O galo, então, cantou e o rapaz viajante saiu até a rua para fumar um palheiro, dar água para o cavalo e pensou alto:
— Mas que sorte a minha encontrar tantas pessoas faceiras, receptivas, e aquela moça, prenda formosa e educada.
Vou voltar lá.
Arrancou uma florzinha miúda da beira da estrada e seguiu para o galpão.
O sol já adentrava no céu, mas, quando chegou lá, não havia galpão nenhum.
Como dizem, ”nem rastro”.
O rapaz, assombrado, abriu um velho portãozinho, que fez um barulho de arrepiar até a alma do vivente, deu uns passos apressados e avistou túmulos e um matagal tomando conta das sepulturas.
Começou a olhar, um a um, e a reconhecer aqueles com quem havia estado no tal baile, inclusive a moça bonita por quem teve um cambicho.
Ela estava pálida no retrato antigo da lápide, com o mesmo vestido de cor azulada que usava na festa!
O homem ficou desesperado, depressa montou a cavalo e saiu desatinado estrada afora.
Quando chegou na casa dos seus tios, mal conseguia falar.
Os tios, então, tranquilizaram o rapaz, dizendo-lhe que outras pessoas por ali também estiveram no tal “Baile dos Mortos”, mas, ninguém explicava por que isso acontecia!