Cemitérios são lugares onde a maioria das pessoas preferem passar longe durante a noite, especialmente à meia-noite. Adicione relatos sobre uma assombração que passa pelos portões durante a madrugada e terá a certeza de que ninguém em sã consciência vai querer passear por lá. Essa é a famosa história do Fantasma do Paquetá.
Até 1853, os mortos de Santos eram enterrados nas igrejas.
Por baixo da terra, em um quintal nos fundos do antigo convento, os corpos encontravam o descanso eterno e eram abençoados de tempos em tempos. Conhecido como quintal de Santo Antônio, o espaço ficou pequeno e os mortos começaram a se espalhar pelos pátios das igrejas do Carmo, Santo Antônio, Rosário e São Bento. Em 1851, a cidade ganhou um cemitério para chamar de seu, no Paquetá.
O local concentrava muro, portão e aterro em um pequeno espaço. Em outubro, aconteceu o primeiro enterro.
Nessa época, a iluminação era precária, feita por lampiões. Conforme o sol se punha, as ruas ficavam vazias. Não havia vida noturna ou qualquer movimento, principalmente no Paquetá, onde os moradores eram vizinhos dos corpos, sem qualquer benção de tempos em tempos.
O povo contava histórias sobre o quarteirão da morte o tempo todo. Mas, em 1900, as coisas tomaram uma proporção que ia além de lenda popular e traquinagem das crianças: a vizinhança vivenciou uma verdadeira história de terror em Santos.
Porém algo bem diferente aconteceu no dia 27 de julho de 1900, onde? No cemitério de Paquetá em Santos.
Foi no mês de julho que ouviu-se o primeiro grito.
Uma mulher chorava, à meia-noite, na porta do cemitério. O vulto andava exatamente meia hora, de um lado para o outro, antes de desaparecer na escuridão das ruas iluminadas por feixes amarelos produzidos pelos lampiões.
E voltava no dia seguinte, pelas mesmas ruas e com gritos ainda mais altos. Não demorou para o povo ouvir e alguém confirmar:
O Fantasma do Paquetá
A polícia já estava cansada de receber tantos relatos sobre um fantasma que perambulava por ali e resolveu tirar aquela história a limpo de uma vez por todas. Meia-noite a força policial estava pronta, observada por uma multidão
Major Evangelista de Almeida, chefe da repartição, mandou seus melhores homens para o local, sabia que resolveriam o problema. Eles chegaram cedo e ficaram prontos para prender o fantasma. O povo, orgulhoso e sem medo, foi assistir o acontecimento. Queriam ver o fantasma ser pego.
Naquela noite gelada uma multidão se reuniu em frente ao portão do mal afamado cemitério da rua Dr. Cóchrane, mas para que? Para ver a captura do tal fantasma!
O tempo foi passando e nenhum fantasma apareceu, a multidão chateada e inquieta começou a fazer algazarra, a polícia então dispersou o povo que queria a todo custo ver o famoso fantasma, mas que história é essa afinal?
Diz a lenda que à meia-noite o fantasma de uma mulher surgia caminhando sozinha, parava em frente ao portão do cemitério e chorava, para depois voltar pelo mesmo caminho de onde veio e desaparecia, só tem um detalhe nessa história que muitos na época não sabiam, o fantasma do cemitério de Paquetá era de CARNE E OSSO!
Ela era na verdade uma beata, Maria M., de família tradicional, que sucumbiu aos encantos de um clérigo da Matriz Velha e teve um filho dele, ela viveu no final do século 19 e seu sobrenome é mantido em segredo pois ainda há membros da família vivendo em Santos. Por causa de sua gravidez “proibida” (coitada) foi expulsa de casa, uma das criadas da família ficou consternada e a acolheu em segredo, assim Maria M. passou a viver reclusa cuidando de seu bebê.
Infelizmente a criança morreu (naquele tempo a mortalidade infantil estava nas alturas) e foi sepultada no cemitério de Paquetá. Maria M., com o rosto coberto, passava em frente ao cemitério todas as noites, à meia-noite, para chorar a sua dor, e assim a história foi se misturando, lenda e realidade.
A pobre Maria já era chamada de O Fantasma do Paquetá. Por isso, naquela noite de julho, o povo correu ao cemitério para vê-la em seu trajeto doloroso. Só que o desgosto começava a vencê-la: já caíra de cama, doente e, por causa disso, não apareceu no cemitério.
Menos de um mês depois da noite em que todos esperavam o fantasma na porta do cemitério, Maria M. morreu. Foi enterrada como indigente, no Cemitério do Saboó. Anos depois, um primo que era apaixonado por ela (a quem a dor nunca permitiu a Maria que desse uma chance) entrou em cena. Conseguiu a exumação dos restos mortais dela, enterrando-os também no Paquetá.
Hoje ao menos ela pode descansar em paz, longe da ignorância e da maldade das pessoas.
Assista ao curta produzido pelas Oficinas Querô sobre o Fantasma do Paquetá
Arte de capa por Osvaldo DaCosta
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