E lá estava Marta iniciando mais uma semana. Era hora de treino pesado após a “orgia alimentar” das festas de fim de ano. Depois de muita rabanada , bolinhos de bacalhau, pudins entre outros mais variados tipos de guloseimas, decidiu-se pela eliminação do sobrepeso.
Marta há muito lutava contra a balança. A idade avançando rapidamente e o metabolismo cada vez mais lento. Tomava chás e fazia “N” tipos de dietas que descobria no “Dr. Google”, fornecidos pelos nutricionistas made in China da internet.
Entre uma pedalada e outra na bicicleta da academia, Marta avistou um rosto conhecido. Uma moça de malha de ginástica lhe sorria e acenava para ela. Marta sabia que a conhecia de algum lugar, então se lembrou…
Mas não era possível!!! Era Maria, uma colega de trabalho antiga…
Não era possível, Maria estava muito linda, elegante e até “gostosa” arriscou-se a pensar… Maria era obesa mórbida e há alguns meses, tratava dos trâmites e preparativos para sua cirurgia bariátrica! Pensava tudo isso com espanto enquanto Maria se aproximava sorridente…
“Amiiiiga!” ( Smack Smack) cumprimentaram-se com dois beijinhos.
“Nossa!!! Você está ótima! Conseguiu fazer sua cirurgia?!” Perguntou-lhe Marta com aquela ponta de inveja peculiar feminina.
Maria então respondeu-lhe:
“Cirurgia que nada! Tomei vergonha! Fechei a boca e estou tomando SMEG!”
“Smeg? O que é isso?”
“Smeg é tipo um Kefir, uma espécie de microflora, probiótico, que se cultiva em casa. Só colocar num potinho com água e açúcar mascavo que ele se prolifera! Aí você vai separando nos potinhos e divide com as amigas que também querem!”
Marta a ouvia atentamente e já desejava ardentemente aquela coisa…
E Maria continuava a tagarelar sobre os benefícios do Smeg.
“…Pois é! E não serve só pra perder peso não! Serve para reposição hormonal, dores pelo corpo, diabetes. A diabetes da minha mãe está super controlada depois que dei pra ela beber! Está muito mais disposta! Uma amiga me trouxe lá da terra dos árabes, acho que do Irã. Disse que lá nos EUA onde a irmã dela mora, já é uma febre! Pra sua sorte trouxe um potinho aqui na bolsa, toma pra você! Tome uma colher de chá por dia.”, disse a amiga, entregando-lhe o pote com a semeadura.
Maria olhava curiosa para aquele conteúdo dentro do pote que assemelhava-se a micro ovas de peixe e/ou com coalhada, só que bem menores, bem branquinhas e muito pequenas que boiavam no líquido como em colônias grudadas.
Assim Marta o fez, antes do almoço, tomou uma colher de chá do conteúdo do pote. Sentiu uma leve pontada no estômago, mas não ligou, passou…
Marta passou então a ter seu apetite diminuído e a se sentir muito bem disposta. Acordava cedo, corria, ia para a academia e desempenhava-se no trabalho muito bem , sem cansaço e com prazer.
TPM? Não houve naquele mês, fluxo menstrual controlado e sem cólicas! Santo Smeg!
A esta altura Marta já havia divulgado às suas amigas e dividido o conteúdo do pote com elas e algumas já estavam maravilhadas com o bom resultado.
Marta já havia emagrecido bastante. A medida que retirava a substância do pote, enchia-o com água e açúcar mascavo, no outro dia, era notório o desenvolvimento, o crescimento e a proliferação do Smeg.
Numa determinada madrugada, acordou com dor de estômago, nada alarmante, mas incômoda. Marta foi ao banheiro, fez xixi e olhou-se no espelho satisfeita com sua nova silhueta. Dirigiu-se a cozinha a fim de beber um leite gelado, santo remédio para o estômago. Ao abrir a geladeira, assustou-se com o que viu. O pote de Smeg encontrava-se destampado, caído na prateleira e o conteúdo derramado se movia!
Ela esfregou os olhos não acreditando no que via.
Fixou melhor a visão, aproximou-se e confirmou o que via. Aquilo estava se mexendo! Deslizava lenta e notoriamente voltando ao pote que encontrava-se caído e destampado na prateleira da geladeira.
Horrorizada , Marta afastou-se ferveu um pouco de água na chaleira e despejou naquele conteúdo que se desfez diluindo-se. Lembrou-se da amiga Maria, que havia lhe apresentado aquela substância, correu ao telefone e ligou para a mesma.
Olhou para o relógio, 03:30h , ” dane-se a hora” pensou. Atendeu do outro lado uma voz feminina sonolenta e rouca. Marta desculpou-se. Se identificou e perguntou pela amiga Maria.
A voz do outro lado, titubeou e perguntou:
“Sinto muito. Você não soube? Maria faleceu ontem! O câncer matou-a em pouco tempo. Perdeu muito peso…”
Marta nada mais ouvia largando o telefone ao chão. O que seria aquela substância que ninguém se preocupou em saber ao certo o que era e de onde provinha e sim, com seus resultados maravilhosos e milagrosos?
Sentindo seu estômago embrulhar, foi tomada por fortes náuseas e correu para o banheiro.
“O Smeg!” Pensou…
Quase não deu tempo de chegar ao vaso, vomitando uma grande quantidade de sangue.
Marta chorava desesperada, comprimindo o abdome com dor, olhando o porcelanato branco sujo do conteúdo gástrico sangrento que deslizava lentamente para fora da louça do sanitário.
A História de Terror ‘Smeg’ foi escrita por Sílvia Restani