Quando soube de sua gravidez, a jovem Helena ficou aterrorizada e não sabia que atitude tomar. Ela viveria aquele momento horrendo para sempre em sua cabeça. Ao contar para sua mãe, foi julgada e trajada como mulher da vida perante a família e a igreja.
Helena estava sozinha e infeliz. Maldito foi o dia em que ela se ofereceu para fazer serviços comunitários na igreja, pois se ela não tivesse ido, o Pastor Marco não teria a estuprado e agora ela não estaria com aquela criança em seu ventre.
Helena era a moça mais devota e mais temente a Deus de toda congregação. Não faltava um dia de culto e via demônios em tudo de mal que acontecia a seu redor. Diante daquela situação, a única explicação para aquele novo ser em seu ventre, era que isso também tinha sido preparado por Satanás em pessoa, já que ela era uma mulher cristã muito dedicada e obcecada por religiosidade.
Os pais de Helena não acreditaram que ela havia sido estuprada pelo pastor Marco e pensaram que sua filha, além de mentirosa havia se deitado com vários homens. Dessa forma, eles decidiram expulsa-la de casa.
Então, Helena foi morar com sua avó e, quando a mesma morreu, deixou uma herança “gorda” para a neta. Leticia nasceu em casa, pois Helena não admitia que outros vissem seu corpo, era sinal de vergonha.
A linda menina foi crescendo e, com os ensinamentos tirânicos de sua mãe, se tornou uma pessoa muito fechada e introvertida. Assim que começou a cursar enfermagem, Leticia conheceu Lays, uma garota que apresentou à ela um mundo que não conhecia. Elas iam ao cinema, teatro, restaurantes e até mesmo em sebos literários, mas não conseguiam passar um dia sequer sem se verem. O amor entre as duas nasceu de uma forma muito singela e verdadeira.
Com o passar dos dias, as duas foram ficando mais descuidadas e acabaram trocando carícias e beijos onde quer que estivessem. Por este motivo, a mãe de Leticia descobriu o romance das duas. Assim que viu as duas moças se beijando, seu coração disparou e toda cena do estupro que ela havia sofrido correu em sua mente. Leticia era uma obra de Satanás, mas só agora ela tinha certeza. Ela teria de por fim no mal que ela mesma trouxe ao mundo.
Quando Helena chegou em casa do serviço, Leticia havia feito um bolo para seu aniversário. Ela abraçou a mãe e juntas cantaram parabéns. Após comerem o bolo e trocarem meia dúzia de palavras, Leticia foi dormir. Helena estava com um pesar imenso em seu peito. Ela se lembrou da primeira vez que viu Leticia e de como a achou linda, de como ela ensinou a filha a andar e até mesmo dos primeiros dentinhos. Sua lembrança preferida era a de Leticia chamando-a de “mama” pela primeira vez. As lágrimas caíam de seus olhos sem seu consentimento. Ela amava a filha mais que tudo nesse mundo, mas ela não poderia deixar que uma obra satânica continuasse viva.
Então, Helena entrou no quarto de Leticia e sufocou a moça com um travesseiro. Assim que não sentiu-a se mexer mais, Helena desabou em lágrimas e gemidos, pois ela não queria viver em um mundo sem o seu amor.
Helena envenenou-se na mesma noite e, quando foi achada, estava abraçada ao cadáver de Leticia.