Colton tinha uma pequena loja de utensílios para o lar. Ele era novo na cidade e estava com os dias contados naquele ambiente e, para não perder sua mercadoria, ele teria de terminar uma pequena mudança e carregar tudo para seu novo endereço.
Tudo tinha de ser empacotado e ficar preparado antes de chegar a ordem de despejo. Além de pagar o aluguel do mês, o rapaz teria de quitar algumas multas. Maldita fora a hora que ele assinou o contrato de locação antes de ler as letras miúdas, mas como sua vida sempre estava na correria, ele preferiu levar tudo em conta e fingir que tinha lido.
Naquelas cláusulas miúdas, o mal uso da loja como: danos ao piso e às paredes ou até mesmo os danos na parte de maçonaria da loja acarretaria em multa. Colton tinha um total de quase quatro mil reais para quitar tudo, sendo que o aluguel custava apenas quinhentos, pois a área de locação não era das melhores.
Aborrecido. o jovem se arrastou com seus fantasmas até seu carro, provavelmente ele teria de vender o maldito carro pra pagar todas as contas, isso não era novidade. Ele desligou o celular para não receber mais notificações e tentou segurar as lágrimas para não desabar no volante em pleno estacionamento rotativo.
O dia seguinte ia ser um dos piores dias de sua vida. Ele teria de enterrar o amor de sua vida, Anna, que havia falecido na manhã desse mesmo dia. Ele sequer estava junto dela, pois tinha preguiça de reatar a relação e ter de conhecê-la novamente.
Eles tinham dividido cerca de seis anos juntos e foi uma das melhores fases da vida do rapaz, mas tiveram algumas brigas e Anna era muito orgulhosa. Ele não moveu uma palha para reatarem e esse grande amor acabou morrendo junto com Anna. Tudo o que restava em Colton era tristeza e ressentimento.
O rapaz encarou seu reflexo no espelho por alguns minutos e tentou enxergar algo além das suas olheiras. Sua vida estava completamente afundada em problemas, mas o rapaz havia decidido que sua saúde tinha que melhorar. O que aconteceu com sua amada, poderia muito bem ser um aviso, além de preguiçoso e mesquinho, Colton também era muito fã do sobrenatural e qualquer vento era um sinal divino para que ele fizesse ou deixasse de fazer algo.
O rapaz deu partida no carro e seguiu em direção à sua residência. Pelo caminho, passou em frente a vários locais em que ele e Anna gostavam de passear enquanto a jovem ainda estava viva. De todos, o seu preferido era o sebo. Enquanto Anna lia livros sobre ocultismo, ele dormia nos sofás confortáveis que a dona havia posto em sua homenagem, já que todas as vezes que o casal ia no local, Colton dormia no assoalho gélido.
Ele não foi forte para segurar as lágrimas e, quando percebeu, já estava a ponto de soluçar. Era uma dor muito forte em seu peito. Como se uma parte sua tivesse morrido junto à Anna. Ele precisava vê-la viva de novo, escutar todos os conselhos da jovem sobre signos ou como fazer um bolo perfeito com base nos seus heróis preferidos. Assim, o resto do percurso, Colton fez quase que automaticamente, pois sua atenção não estava ali, estava em Anna. No que restou do seu dia, o rapaz se embebedou em seu pequeno apartamento até cair no sono. Ao menos dormindo e bêbado, a dor de perder Anna não o incomodava.
No dia seguinte, ele quase perdeu o enterro, pois não estava em condições de se levantar por causa de um misto de ressaca com preguiça. Ele fez uma força enorme para ir. Era a última vez que ele veria Anna antes de dizer adeus.
Colocou a primeira roupa preta que viu em sua frente, mas o resultado foi catastrófico. Uma bermuda acima dos joelhos, uma blusa polo e um tênis branco, pois ele não teve como comprar um para a ocasião. Ele estava se sentindo um lixo por dentro e, por fora, estava ainda pior, mas ele queria se mostrar à Anna da mesma forma como os dois se conheceram.
Quando eram apenas adolescentes entrando na puberdade, Colton era um tanto quanto depressivo e, por esse motivo, vestia-se sempre de preto e assim era até hoje. Para ele, todas as outras cores representavam um estado de espírito mais animado que o seu, por isso não fazia uso das demais.
Ao chegar à capela, observou Anna morta no caixão. Por uns instantes ele tentou retirar, mesmo que somente em sua cabeça, todas as pessoas que estavam ali. Sua dor aumentou ainda mais quando notou que muitos que estavam presentes nem sequer conversavam com Anna enquanto a jovem estava viva.
O perfume de sua amada estava melhor que nunca. Seus cabelos encaracolados, cobertos por pequenas margaridas, pois era a flor preferida de Anna. Por alguns instantes ele se sentiu mais ligado à ela do que nunca esteve. Algo parecia diferente.
A cerimônia teve fim e Anna foi enterrada. Assim que a madrugada chegou, Colton invadiu o cemitério e cavou a cova da moça, abriu o caixão e começou a devorar sua querida amada. Parte por parte, a garota foi devorada por ele e nunca, em toda sua existência, enquanto pecado, a preguiça saboreou carne mais deliciosa.
A preguiça quis experimentar como era a vida de um adolescente comum e escolheu a vida daquele garoto depressivo, pois não gostava de se esforçar. Mas então ela conheceu Anna e apaixonou-se perdidamente pela jovem. Dividiram as melhores experiências e criaram um vínculo muito forte. Quando a preguiça percebeu que tinha contaminado sem querer a humana por quem tanto se apaixonou, ela resolveu se afastar. Mas, como não queria perder o contato com sua amada, tornou-se então uma admiradora secreta.
Na manhã de sua morte, Anna sentiu uma preguiça enorme para se levantar e fechar o botijão de gás que estava vazando. A garota estava acordada e estava ciente sobre o vazamento mas, ao tentar se levantar, era como se seu corpo não respondesse, pois a preguiça havia se apossado dela por completo.
História de Terror escrita por Contos de Ula