Na época em que tudo aconteceu, eu ainda estava no ensino médio. Teve uma noite em que meus pais saíram e me deixaram sozinho em casa. Como eu tinha muito dever de casa pra fazer, passei a noite inteira estudando sentado na mesa do meu quarto.
Eram umas 18h da noite quando eles saíram. Enquanto fazia minha lição de casa, coloquei meus fones de ouvido e botei a música no volume mais alto. Houve uma grande tempestade naquela noite e minha mesa estava de frente para a janela, então dava pra ver a chuva e os raios lá fora.
Meus pais voltaram por volta das 23h. Quando vi o carro deles, tirei os fones de ouvido. Assim que minha mãe abriu a porta da frente e entrou, eu a ouvi gritar meu nome.
“O que diabos aconteceu aqui !?” ela me perguntou com a voz irritada.
Confuso, eu corri escada abaixo. Minha mãe estava parada no corredor com um olhar furioso no rosto. Ela apontou para o chão e gritou:
“Foi você!?”
Olhei para baixo e vi que o tapete estava coberto de pegadas de lama.
“Eu não tenho ideia de como isso apareceu aí”, eu disse. “Passei a noite inteira na minha mesa, fazendo minha tarefa de casa.”
O olhar em seu rosto mudou de raiva para confusão, e depois para medo. Alguém mais deve ter estado na casa.
Seguimos o rastro de pegadas, tentando entender toda a situação. Elas começavam na porta dos fundos, que geralmente fica destrancada. Então percebemos outra coisa: As pegadas começavam na porta dos fundos, mas não havia rastro de pegadas saindo pela porta dos fundos.
A porta da frente abriu e bateu com muita força. Aquele som som horripilante ecoou por toda a casa.
Todos corremos para a garagem e trancamos a porta. Minha mãe pegou o celular e ligou para a polícia.
“Por favor, venha depressa!”, Ela gritou. “Alguém invadiu a nossa casa!”
Depois do que pareceram horas, uma patrulha chegou com dois policiais, um homem e uma mulher. Um policial ficou conosco na garagem enquanto sua parceira fazia a vistoria pela casa, procurando cômodo por cômodo. Quando ela voltou, a policial nos disse que não havia ninguém na casa e que era seguro voltar para dentro.
Como todos nós já estávamos respirando aliviados, ela perguntou:
“De quem é o quarto no andar de cima, o da esquerda?”
Meus pais olharam para mim.
“É meu”, eu disse a policial.
Ela nos pediu que a seguíssemos. Enquanto caminhávamos pela casa, podíamos ver a trilha de pegadas lamacentas que davam pela porta dos fundos, pela sala de estar, pelo corredor, pelas escadas, até o quarto dos meus pais e depois em direção ao meu quarto. Elas pararam na minha porta.
A policial então apontou para a minha porta, que estava aberta a noite toda. Rabiscado nela, com um marcador preto, estava escrito o seguinte:
8:47 eu te vejo
8:53 Você esqueceu de trancar a porta dos fundos
8:59 Você parece muito focado
9:24 Vire-se
9:47 Olhe para mim
10:15 Olhe para mim
10:37 Olhe para mim
10:49 Olhe para mim
Por mais de duas horas, alguém esteve parado na minha porta, me observando. Até hoje, ainda tremo ao pensar no que teria acontecido se eu tivesse me virado…