No ápice da madrugada, a noite escura estava acompanhada de uma forte chuva e o céu tornou-se palco da linda dança da natureza; raios e relâmpagos se entrelaçaram clareando tudo com a intensa luz, mas foi o som estrondoso de um trovão que me fez acordar, despertando-me de um terrível pesadelo.
Espreguicei-me ainda na cama e olhei tudo ao redor. Virei para o lado oposto, arrumando-me e fechando meus olhos para que pudesse novamente adormecer. Quando já estava próxima a adentrar ao mundo de Morfeu, um novo barulho me levou mais uma vez a abrir meus olhos.
Levantei-me ainda sonolenta, sentei-me na cama e calcei as pantufas; com dificuldade, arrastei-me até a janela. Talvez poderia ser minha irmã que havia chegado, já que viria passar uns dias em minha casa para comemorarmos a Páscoa.
Me deparei com outra cena: uma mulher encontrava-se do outro lado da rua, debaixo do poste de energia. Paralisada e sozinha, a desconhecida olhava fixamente para minha casa e, ao perceber que alguém a estava observando pela janela do segundo andar, deu um grito desesperador.
Meu corpo estremeceu e uma forte mistura de medo e adrenalina tomou conta de mim. Corri descendo as escadas, direcionando-me até a porta de entrada. Tentei acender a luz da sala, mas foi em vão: a energia elétrica da casa tinha acabado com o forte tempestade.
Pensei em abrir a porta, mas minha paranoia avistou que algo estava fora de contexto e que poderia estar arriscando minha vida ao pensar em abrir a porta à estranha. Meus pensamentos divergiam entre querer ajudar e não me pôr em risco. Talvez poderia ajudá-la ao ligar para a polícia, mas e se ela não estivesse viva até lá? Mas também ao por um desconhecido para dentro da minha casa, não sabia de que ou quem ela estava com medo; e se ela fosse o perigo?
Confusa, tentei ligar para a polícia pelo celular, mas estava fora da área de serviço e pelo telefone de casa não dava, afinal, estava sem energia. Pensei melhor em ver se ela ainda estava em frente a minha casa e, para minha surpresa, encontrava-se lá. Ainda parada, ela fitava a janela como se soubesse que alguém estava ali e, com um movimento brusco, levantou a mão e acenou para mim.
– Oras, mas que maluquice é essa?! – falei em voz alta. E paulatinamente, a moçoila começou a atravessar a rua em direção a minha casa.
Desci as escadas e, na angústia de desvendar o mistério, caí e bati minha cabeça em um dos degraus, deixando-me atordoada. Dirigi-me até o olho mágico da porta e estranhei; não havia ninguém. Numa decisão chula, decidi abrir a porta para verificar se ela não estava por perto. Neste instante ao destrancar a porta, já estava sujeita ao perigo. Dei um passo para fora e movimentei apenas meu rosto para o lado direito e esquerdo, mas sem obter respostas, voltei para dentro. No exato momento em que peguei no trinco para fechar a porta, ela apareceu em minha frente; meu coração pulsou como se quisesse saltar para fora do meu corpo.
Em choque, meu corpo perdeu os movimentos. Sem reação, meu corpo gelou ao encarar a mulher. Tinha um belo rosto, mas o seu olhar e seu sorriso era uma linha tênue entre sombrio e frieza. O silêncio pairou por segundos, mas foi quebrado com sua voz:
– Olá. – disse ela sorrindo e eu permaneci calada.
– Não irá dizer nada? – tornou a falar.
– Você está bem? – eu perguntei.
– Um pouco, agora me sinto melhor – retrucou – Não precisa ter medo de mim – aquela mulher soava-me assustadora.
– Não estou com medo, mas gostaria de saber se precisa de ajuda.
– Não vai me chamar para entrar? – observei que seu olho esquerdo tremer, e algo dentro de mim dizia que algo estava muito errado. Não estava confortável, não queria deixá-la entrar.
– Precisa de ajuda, senhora? – perguntei com firmeza.
– Não vou lhe machucar – ela sorriu.
– Não vai mesmo, boa noite. – e fechei a porta com força, deixando-a para fora. Dei alguns passos para trás enquanto encarava a porta.
– Não vai me convidar para entrar?! – esbravejou a mulher do lado de fora.
Não respondi, não era minha obrigação. Continuei a me afastar da porta, mas sem deixar de olhá-la. Até que ouvi os passos, indo embora. – Graças a Deus! – suspirei profundo. Mas algo me incomodava. Eu realmente queria compreender o que de fato estava acontecendo. E o que me deixava mais apreensiva, era eu estar no escuro e sem sinal do celular para pedir socorro. Então um riso ecoou pela casa. Vagarosamente me virei para trás, e lá estava a bendita mulher, sentada em meu sofá.
– Não deveria ter negado, anjinho! – disse com deboche.
Neste instante dei conta, que não era um corpo presente, assim achava. Corri para subir as escadas, mas uma coisa – não poderia dizer mão, porque não era uma mão humana – segurou-me pelo meu tornozelo esquerdo com força. A lógica havia acabado naquele instante e as leis da física jamais poderiam explicar, nem mesmo estudos espiritualistas. Fui puxada pelas escadas e essa “coisa” subiu em cima de mim, dificultando minha respiração.
– O que você vai ganhar se me matar? – gritei.
– Tornar-me-ei você! – ela disse calmamente.
Em uma ação rápida e brusca, senti uma dor horrenda, e com a vista embaçada vi todo sangue saindo de minha garganta. Enquanto agonizava com o amargo beijo da morte, tive o desprazer de ver o ser transformando-se em mim.
No último suspiro de vida que ainda me restava, um estrondoso som de um trovão me fez acordar.
História de Terror escrita por Lorraina Costa
5 comentários
Muito boa a história principalmente o final quando tudo não passava de *************. Sem spoiler kkkk?
Muito bom a história
Muito bom, ótima escrita. A sensação de medo e apreensão foram nitidas, em um momento a protagonista estã na segurança de seu lar em sua rotina, e lentamente o terror fai tomando conta do cenario. no principio temos algo normal que todos podemos passar, como um estranho fazendo barulhos na rua, e no outro nos é apresentada uma ideia do que pode acontecer caso tenhamos coragem de verificar…
Eu adorei
Valeu pelo comentário Eduardo. Estamos sempre tentando melhorar nosso conteúdo para que nossos Sombrios se arrepiem e continuem voltando. Fique sempre conosco. Obrigado pelo carinho! Abraços Sombrios!
gostei
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