Museu Penitenciário: devaneios de uma alma

por Mundo Sombrio
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Ser guarda noturno nunca foi o trabalho mais desejável, mas quando consegui o cargo para cuidar de uma velha prisão transformada em museu, pensei que não poderia ser tão ruim. A penitenciária estava vazia há anos, antes do Estado decidir transformá-la em “museu histórico”.

As paredes de pedra, úmidas e frias, ainda mantinham àquele eco sombrio das almas que tinham sido trancadas ali.

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Durante o dia, o museu recebia turistas curiosos, que passeavam pelas celas e salas de tortura, ouvindo as histórias dos presos que apodreceram naqueles corredores.

Mas à noite… Ahhh! À noite era outra coisa!

Quando as luzes se apagavam e a escuridão cobria tudo, a prisão se tornava um lugar perturbador, onde os ruídos eram como lamentos e a mesma atmosfera parecia ter alguma vida.

Meu turno começava às 19hs e terminava ao amanhecer, às 7hs. Percorria pelos corredores com minha lanterna, com o som das minhas botas ressoando no chão de pedra.

No início, pensei que era só imaginação, mas sempre achei que havia algo… algo mais naqueles corredores. Uma presença que eu não conseguia ver, mas que sentia constantemente atrás de mim – como se alguém estivesse me observando!

Uma noite, por volta da meia noite, ouvi um barulho estranho. Uma batida constante vindo da ala leste, onde estavam as celas de segurança máxima. Levei a lanterna para lá, com meu coração batendo forte e, à medida que me aproximava, o som ficava mais claro. Era como se alguém estivesse arrastando uma corrente pelo chão.

Cheguei no fim do corredor mas não vi ninguém. E a batida não parou! Olhei para baixo e vi que a porta de uma das celas estava entreaberta. Abri lentamente e apontei a lanterna para dentro. Nada, nada. Apenas ar pesado e cheiro de umidade. No entanto, quando dei a volta para sair, ouvi uma voz:

“– Me ajude!”

Eu congelei. A voz era apenas um sussurro, como se viesse de muito longe, mas era inconfundível. Virei a cabeça, iluminando a cela com a lanterna e, por um momento, vi uma sombra. Uma figura humana curvada, olhando para o chão. Mas em instantes ele sumiu!

Depois disso, as noites ficaram insuportáveis. Não podia percorrer a prisão, sem sentir que algo me seguia. As sombras estavam se movendo nas paredes, as lamentações ecoavam pelos corredores, e quando eu estava no escritório, verificando as câmeras de segurança, via movimentos rápidos, como se vultos passassem correndo pelas lentes.

Comecei à perder a noção do tempo. As noites eram intermináveis e o nascer do sol parecia nunca chegar. Mas a pior noite foi a última.

Por volta das 3 da madrugada, ouvi uma gargalhada baixa, como se tivesse vindo de uma garganta seca. Vinha da sala de torturas, um lugar que eu sempre evitava. Mas eu tinha que investigar – afinal, foi prá isso que eu fui contratado!

Fui até lá, com a lanterna tremendo na mão. Quando cheguei, eu vi: um homem estava de pé, de costas para mim, com uma corda pendurada no pescoço, como se estivesse pronto para se enforcar. A corda, que balançava ligeiramente, estava pendurada numa velha viga de madeira:

“– Ei, quem é você?” – eu disse.

O homem não respondeu. Ficou ali, com a cabeça baixa e a corda estalando com um barulho horrível. Aproximei-me lentamente e, quando estava prestes a tocar-lhe, ele virou a cabeça para mim. Seus olhos estavam vazios, como dois poços escuros, e um sorriso torto desenhou-se em seu rosto:

“– Você também está preso aqui.” – disse com uma voz cavernosa.

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Retrocedi, tropeçando e caindo no chão, enquanto a figura se desvanecia diante dos meus olhos. Em pânico, saí correndo da sala, mas quando cheguei no corredor principal, algo me parou.

As paredes estavam cheias de fotos antigas, dos antigos prisioneiros e dos trabalhadores do museu. E no fim do corredor, havia uma foto que eu nunca tinha visto antes!

Era uma foto preto e branco, velha, desgastada, como se tivesse décadas pendurada nessa parede, de um homem de uniforme de guarda à olhar fixamente para a câmera.

E aquele homem… Era eu!!!

Eu nunca fui o guarda. Sou apenas mais um fantasma, uma alma presa nesta maldita prisão, condenado à percorrer seus corredores até o fim dos tempos!

*****
Autor desconhecido. Adaptação e pesquisa: Sérgio Gitel.

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