Walter comprou uma casa de campo para sua família naquele verão. Tudo estava fora de seu controle. Seus filhos nem mesmo sentavam mais á mesa para jantar. Ele sentia que precisavam de um tempo em particular para deixar os laços mais estreitos, pois quando seus pais o criaram, ensinara-no o verdadeiro sentido de família e ele queria passar isso para William e Walley.
Quando ele contou a notícia, todos continuaram fazendo o que estavam a fazer e não deram muita importância, até mesmo sua esposa Amara que estava vidrada no Facebook em alguma postagem de suas amigas da faculdade. No fundo, Amara se sentia derrotada. Engravidou de William e precisou largar a faculdade. Não realizou seu maior sonho que era se tornar uma médica e ainda depende de seu marido até para comer.
Ela estava vivendo a vida que sempre julgou. Sua mãe havia vivido dessa mesma forma por anos e fizera o mesmo que ela estava fazendo com seus filhos. A amargura em seus dias era tanta, que decidiu deixar os dois de lado e dar atenção para o que a tirasse daquela realidade horrível, ou seja, a internet, até em sites de relacionamentos Amara estava inscrita.
William sofria bullying na escola por ser magro demais e um tanto quanto desleixado. Na escola, colocaram nele o apelido de Garibaldo, aquela ave amarela e desengonçada da vila Césamo. Na equipe de basquete ele nunca era escolhido, sempre assistia os jogos da arquibancada. Ele sonhava em jogar no time, por isso prestou o teste e, mesmo sendo extraordinário no basquete, o treinador achava que ele era muito sensível fisicamente para jogar contra jogadores tão desenvolvidos como os demais.
William era um dos elos mais frágeis da família, não por seu tipo físico, mas por sua mentalidade depressiva, a única coisa que dava prazer a William era alimentar sua cobra de estimação, Gizelda.
Walley era uma típica garota branca e mimada. Um rótulo atribuído por ela mesma. Ela dizia sempre ser a melhor em tudo e fazia questão de se auto- afirmar toda hora e para qualquer pessoa. Sempre que estava sozinha ela se lembrava de como sua vida era uma merda e nem com todo o dinheiro que seu pai disponibilizava semanalmente, ela conseguia suprir isso. Seu armário era impecável, cheio de roupas de marca e seus cabelos estavam sempre bem hidratados.
Na escola, Walley tentava entrar na equipe de líderes de torcida. As líderes de torcida não a aceitavam, pois a jovem estava acima do peso. Desde esse momento, Walley libertou o pior em si e, quando estava em casa, seu único pensamento o seu peso.
Walter preparou todos em seu carro e foram em direção à casa de veraneio. Seria uma das melhores férias que viveriam em anos, ele tinha certeza disso. Ao chegar na residência, Walter encontrou um homem em sua casa que se apresentou como Gordon, ele era o jardineiro da casa que Walter havia contratado por telefone. Gordon mostrou a Walter um possível vazamento e os homens foram discutir sobre o que tinha de ser feito.
Walter desconfiou um pouco de Gordon. Seus olhos não emanavam coisa boa, mas ele logo se deixou levar, afinal devia ser coisas de sua cabeça. Gordon havia sido muito bem recomendado por vários moradores locais. Após analisarem o vazamento e discutirem o orçamento, Gordon se despediu e Walter voltou para sua família.
Todos estavam completamente emburrados, pois precisavam de internet para garantir o entretenimento, mas Walter ainda não tinha instalado o cabeamento de internet. Amara, sem muita coisa o que fazer, foi providenciar o jantar, William e Walley ficaram deitados na sala e Walter foi para a varanda. No momento em que ele planejou isso para sua família, ele queria unir a todos, não deixar tudo pior do que estava, agora ele teria de passar os quinze dias de férias com reclamações bestas em seu ouvido. Ele também tinha redes sociais, mas conseguia viver bem sem elas, então seus filhos e esposa poderiam fazer o mesmo.
No dia seguinte, de manhã bem cedinho, Gordon chegou e, como Amara ainda estava dormindo, Walter teve de preparar o café e pão para servir ao jardineiro. Os dois sentaram e, depois de muito conversarem sobre a pequena cidade, Walter tirou todas as suas dúvidas sobre Gordon. Ele era sim uma boa pessoa, assim como haviam dito a ele. Até mesmo marcaram um churrasco para o domingo.
Assim que Walter retornou para guardar as louças do café na pia, se deparou com sua esposa enfurecida por não ter sido acordada para preparar o café. Walter se desculpou com Amara e decidiu deixar ela se queixando sozinha na cozinha, pois ele estava com a paciência quase nula aquele momento.
William decidiu tirar Gizelda de seu aquário especial, pois a bichinha nunca havia saído de lá e merecia se divertir um pouco, segundo o menino. Os dois foram para o jardim e, quando ele soltou a cobra, levou uma picada surpresa em seu braço. Agonizando de dor, o menino abandonou o réptil no chão e deitou sobre a grama gritando. Gordon foi acudi-lo e, com Walter, levaram logo ele ao médico da vila. O médico disse que não precisavam se preocupar, pois Gizelda não era uma cobra venenosa, mas de fato sua picada doía.
Assim que voltaram para casa, Walter levou William no colo para o quarto e foi trocar o curativo, já que o menino estava um tanto quanto mole após a série de injeções que levou no hospital para conter a inflamação da picada. Já se passava das duas da tarde e Walley ainda estava dormindo, por isso, Amara ficou fazendo companhia a Gordon enquanto ele acertava o gramado.
Não se sabe ao certo como aconteceu, mas os dois desenvolveram uma intimidade fora do normal, chegando até a trocar beijos secretos. Amara se sentiu muito mal, afinal nunca teve coragem para trair o seu marido, ainda mais com um homem que havia acabado de conhecer. Os dias passaram, Walter cuidava de seu filho e ficava cada dia mais preocupado com seu filho, pois o ferimento parecia estar apodrecendo.
Walley não conseguia parar em pé, seu fascínio por ficar magra fez com que a moça vomitasse tudo o que colocava na boca, pois seu corpo não tinha muitos nutrientes para sustentar seu peso e, por isso, seus dias se resumiam a sua cama e um fino mingau de fubá que seu pai preparava e dava em sua boca. Amara não saía da casa de Gordon e sempre dizia estar na igreja.
As férias haviam terminado e Walter precisava voltar para seu trabalho. Na sua cidade, seus filhos poderiam ser atendidos por médicos melhores e os medicamentos seriam por conta do governo, já que na cidade também tinha uma farmácia popular. Chegaram à cidade já de noite e arrumaram suas coisas. Tudo estava preparado para o jantar e como estava acostumada, Amara começou a responder aos homens dos aplicativos amorosos, ela precisava de mais adrenalina assim como teve com Gordon.
O médico examinou as crianças e internou Walley. Seu corpo necessitava de nutrientes e ela não os estava ganhando em casa. Amara decidiu ficar no hospital com sua filha e Walter teve de voltar pra casa com William, pois o médico examinou a ferida e disse que estava tudo normal, mas Walter jurava ter sentido fedor de podre assim que trocou as ataduras da última vez.
Ao chegarem em casa, os rapazes fizeram uma encomenda de pizza e passaram a noite rindo de fotos antigas da infância. Quando William dormiu, seu pai o colocou em seu quarto e também foi pro seu quarto. Suspeitando de sua mulher, ele decidiu olhar em sua gaveta e achou diversos preservativos e cartas indecentes trocadas com outros homens. Walter ficou destruído por dentro. Ele passou a vida dedicando seu tempo, suor e lágrimas à sua família. Ele não poderia mais viver assim sabendo que seu grande amor o tinha traído. Então, apanhou seu revolver e disparou contra sua cabeça, fazendo sua parede amarelo claro ficar quase que vermelha por completo.
William acordou com o disparo e correu para ver o que tinha acontecido, chegando lá, viu seu pai morto e todas as provas da traição de sua mãe. A ira subiu-lhe à cabeça e, da picada da cobra, espalhou-se uma ardência por todo seu corpo. O rapaz apanhou a arma e foi ao hospital. Chegando lá, disparou diversas vezes contra sua mãe que estava dormindo ao lado do leito de sua irmã. Disparou também contra sua irmã e, quando foi cometer suicídio, os seguranças do hospital o seguraram e contiveram-no. De longe, no mesmo corredor, Gizelda, a cobra de William, se transformou em quem realmente era, o Pecado da Ira.
William foi acusado, tanto pelo assassinato de sua mãe e irmã, como pelo de seu pai. A ferida feita pela cobra nunca sarou e, quando começava a arder, William fazia coisas brutais.
História de Terror escrita por Contos de Ula