Henrique fora criado em uma pequena cidade em Osasco. Sua família era muito problemática e o pequeno passou por períodos turbulentos: separação dos pais, a morte de sua mãe por overdose de drogas, sua irmã entrando na prostituição aos 15 anos e seu pai se suicidando em seu aniversário de 10 anos. Henrique teve de ir morar com seu tio em Curitiba e passou a ajudá-lo em seu restaurante. Ele largou os estudos e dedicou seu tempo somente ao restaurante. Quando tinha 13 anos Henrique começou a construir sua ruína, não conseguia ficar mais de uma hora sem comer algo.
Quando completou vinte anos, o rapaz estava irreconhecível, pesava aproximadamente 240 quilos e comia a cada dez minutos. Ele se sentia muito culpado por comer tanto, mas a comida era sua única amiga. Quando ele comia ele se sentia muito bem consigo mesmo e com todas as situações que o impulsionava para o fundo do poço. Henrique continuou comendo e comendo, sua gula não havia fim. Seu tio não via mais saída para seu sobrinho querido e decidiu internar ele em uma clínica de reabilitação para pessoas com transtornos alimentares.
Henrique teve que ser dopado para ser levado à clínica. Quando o rapaz acordou, estava em um quarto branco e bem iluminado. Para seu café havia apenas café adoçado com mel e um par de pães com margarina. Henrique torceu o nariz, mas comeu tudo em menos de um minuto. Seu quarto estava trancado por fora e a janela não tinha passagem para alguém de seu tamanho. Ele tentou gritar para alguém trazer comida, mas não vieram.
Quatro horas se passaram e a fome estava tomando conta do rapaz. Sua cabeça não pensava direito e seu corpo inteiro doía. Para o almoço, só levaram um peito de frango sem pele e purê de batata sem leite. Henrique novamente comeu em menos de um minuto. A vida de Henrique naquele inferno estava indo de mal a pior. A fome e a ganância por comer estavam em seu auge. Henrique precisava comer algo, foi aí que teve a ideia mais louca que já tinha passado por sua cabeça.
Com o talher de plástico que Henrique recebeu de sua janta, ele começou a cortar sua mão esquerda. Foi a dor mais alucinante que pudera experimentar. Serrou sua mão até que se soltasse por completo e estancou o sangue com o lençol. Depois de parar a hemorragia, Henrique se deliciou com sua mão, chupou todos os ossinhos. O rapaz estava ávido por mais, e então, foi a vez de sua perna esquerda, depois a direita. Henrique morreu. Foi achado com seus membros inferiores dilacerados e em estado de esqueletização como se estivessem sido chupados por cães. Em sua autópsia foram achados pedaços de seu corpo em seu pulmão.
O médico da clínica de reabilitação estava cada vez mais feliz, quase sempre o mesmo acontecia em sua clínica. As pessoas não podiam se conter quando estavam perto do verdadeiro pecado da Gula. Assim que saiu da caixa de Pandora, o pecado assolou o mundo inteiro, mas nos dias atuais trabalha como médico dessa clínica nas horas vagas, só para ter o prazer de sentir o que sua presença faz na vida dos mortais.
História de Terror escrita por Contos de Ula