Eu e minha irmã chegamos da escola ontem por volta das 20h.
Parecia tudo normal até então. Enquanto tomávamos banho,minha mãe preparava o jantar, pois meu pai trabalhava até umas 21 e pouca porcausa do seu comércio.
Assim que terminamos, fomos para a cozinha e mamãe ainda estavana mesma posição, cozinhando. Eu e a minha irmã sentamos à mesa e comentamos:
“Nossa! Que cheiro gostoso, mãe! Está fazendo omelete?”.
Ela apenas virou a cabeça e nós duas ficamos geladas,trêmulas dos pés à cabeça. Mamãe estava com os olhos trêmulos e brancos. Com a bocabem aberta, começou a beber o óleo que borbulhava com a fritura do jantar. Elaengasgava e dizia algo como “CROATOAN”, se queimando toda. Minha irmã começou agritar e eu tentei segurar o braço da minha mãe, mas ela tinha uma força enormee me jogou a panela quente.
Minha irmã saiu gritando pela vizinhança e eu, mesmo commuita dor, tive que presenciar aquele momento macabro que se sucedia. Minha mãeretorcia todo seu corpo, como se seus membros se distendessem com um somhorrível de ossos se quebrando.
– MÃE! – eu gritei enquanto tentava me levantar
Ela não se parecia nada com a mãe que eu amava. Ela avançouem cima de mim, como um cão raivoso, babando, completamente deformada. Então,usei a mesa como escudo. O urro dela era como de um cachorro grande, grunhindouma palavra estranha, algo como CROATOAN!
Corri para a rua, sem me importar com a dor de estar queimada e muito menos na sujeira da minha roupa. Peguei minha irmã no colo e fomos para a casa da vizinha da frente. Batemos, batemos, batemos e nada. Corremos ao redor do quarteirão pedindo ajuda e minha mãe ainda urrava alto. Até que, momentos depois, percebemos que não estávamos no nosso quarteirão. Não era nada igual. Tudo estava deformado e esquisito.
Batemos em várias casas pedindo socorro. As queimaduras começarama doer e minha irmã estava molhada; por causa do medo, tinha feito xixi! Peguei-ano colo e simplesmente corri. Todas as casas tinham marcas de sangue e algoescrito em suas paredes… Croatoan!
Quando achei que não iria mais suportar tudo aquilo, umsenhor de rua nos chamou. No desespero, nem pensei que ele pudesse nos fazeralgum mal. Ele nos colocou debaixo de suas cobertas fétidas, puídas e comrestos do que eu nem quero saber…
O que deveria ser a minha mãe, gemia cada vez mais perto. Eutapei a boca da minha irmã com uma das minhas mãos; “isso não está acontecendo é um pesadelo!” Eu pensava! Há poucotempo ríamos juntos, enquanto esperávamos o papai para o jantar. Porque isso? Oque estava acontecendo!?
A cada segundo que se passava, aquilo estava mais perto denós. Falava uma língua que eu não sabiadizer qual era, mas o mendigo sabia e a respondeu. Nesse momento minharespiração ficou ofegante, achei que iríamos morrer. Eu dei um beijo na testasuada da minha irmã, como que se me despedisse dela. Eu estava pronta paramorrer.
Os segundos pareciam horas. Até que ele nos descobriu e fez umsinal com o indicador mostrando silêncio.
– Vocês vão correr e não vão olhar para trás, não importa oque ouvirem. Croatoan!
Eu achei que não tinha entendido a última palavra e, mal elehavia dito isso, peguei minha irmã pelo braço de novo corri. Corri com todas asminhas forças. Até que, de repente, ouvimos aquele ser horrível bem atrás denós.
Minha irmã olhou para trás sem eu percebesse e foi arrancadadas minhas mãos. Me sinto uma covarde dizendo isso agora. Eu não tive coragemde ir com ela. Deixei minha irmã ser pega por aquela coisa, ou demônio, aquiloque eu não sabia o que era! Aquele pesadelo em formas distorcidas.
Por conseguinte, suja e exausta, avistei ao longe o carro domeu pai e corri ao encontro dele.
Nunca chorei tanto na vida. Ele viu o meu estado e quis melevar para casa. Eu tentei alertá-lo, mas estava cansada demais, triste demais,exausta demais!
Porém, assim que ele abriu a porta, a minha casa estavaigual!
Nenhum sinal de luta, nada sujo! Bem como era antes de todoaquele pesadelo. Então, ainda soluçando perguntei:
– Onde estão mamãe e Luíza, papai? O Senhor sabe o que éCroatoan?
Ele abaixou e me abraçou bem forte. Eu o sacudi, gritei, masele não me deu ouvidos. Pegou tudo o que podia em seu caminho e enfiou nocarro.
Eu, sem entender nada, percebi que tinha sangue nas roupasdele, muito sangue. Então gritei:
– ONDE ESTÃO AS DUAS PAPAI!?
Ele segurou minha mão com força, me jogou para dentro docarro e, assim que começou a dirigir, percebi, através do retrovisor, que duasfiguras disformes nos seguiam. Ele pediu para que eu não olhasse, mas eu sabia eramelas.
Então adormeci.
Dias se passaram. Eu e meu pai continuamos vagando e, cadavez mais, mais desses seres surgem do nada.
Eu não sei o que realmente está acontecendo e ninguém sabe o significado real dessa palavra escrita em sangue nas paredes, mas se você encontrar essa carta, saiba que, ao vê-la, deve fugir, sem olhar para trás.