Durante uma noite chuvosa, uma garotinha de cinco anos, não recordo muito bem a idade, sentiu-se solitária em sua casa. Seus pais estavam assistindo TV. Na verdade, sua mãe estava conversando com as amigas pelo celular e seu pai estava deitado no sofá.
Ravena, a garotinha; debruçou-se sobre a janela do quarto e contemplou a chuva caindo no asfalto. Tempo depois, ouviu um sussurro vindo de sua cama. Curiosa, aproximou-se da cabeceira, mas não ouviu nada. Não mais. Ao voltar para janela, ouviu o sussurro novamente. Dessa vez, ouviu a frase “nunca mais”. Assustada, foi até a sala. Seus pais haviam pegado no sono, um sono profundo. Ravena, percebeu que alguém batia incessantemente na janela. Um passo cuidadoso de cada vez, a menina viu uma ave em sua janela. Era um corvo.
Asas longas, olhar imponente. A ave a olhava fixamente, e vice-versa. Segundos depois, o corvo disse:
— Nunca mais!
Sem entender o que estava acontecendo, ou se aquilo era real ou não, Ravena tentou acordar seus pais, mas eles não estavam mais lá. Não mais. Tentou correr para seu quarto, mas não reconheceu o lugar. Os móveis, a pintura na parede, os quadros… Não, Ravena nunca esteve lá. Enquanto tentava reconhecer a casa em que nunca esteve, o corvo dizia “Nunca mais”.
A voz crocitante do corvo aumentava e Ravena se desesperava. Parecia que estava há horas no mesmo cômodo. Todas as portas estavam fechadas. Ninguém podia entrar. A menina, tão pouco podia sair. Tentando sair do seu pânico, a garotinha passou a entender que aquela ave que crocitava, tentava tirá-la de lá. Ela, mais uma vez aproximou-se da janela e, ao invés de correr, repetiu o que o Corvo dizia… Nunca mais, Nunca mais. Como um mantra.
Enquanto repetia o que o Corvo dizia, percebeu o dia clarear. Quanto tempo passou? Ravena não estava mais na janela, porque o Corvo não estava mais lá. Não mais.
Abrindo os olhos lentamente, sentiu-se confortável após uma uma boa noite de sono. Com o que sonhou? Com seu amigo de infância, o Corvo. Amigo descoberto num dos livros de seu pai.
Ravena era especial. Sonhava tudo que lia. E escrevia tudo que sonhava. Mas essa noite não era como as outras. Seu amigo estava se despedindo. A garotinha cresceu, e não precisa mais de sua proteção. Mas o Corvo precisava vê-la… uma vez mais. E a partir de agora, Nunca mais!
ESCRITO POR: Régis Di Soller