Tamie era nova no colégio. Havia poucos dias que estava no Rio de Janeiro. Seus pais trabalhavam em uma empresa famosa do Japão que abriu uma filial no Brasil, sendo a eles confiados os cargos da presidência e vice presidência. Como ambos, apesar da descendência japonesa, eram brasileiros, viram na promoção uma oportunidade de crescimento profissional e de reaproximação com a família no Brasil.
A adolescente com traços orientais e falando um português fluente, porém com sotaque engraçado, evidentemente tornou-se o centro das atenções de seus colegas na escola. Os meninos ficaram fascinados por sua beleza. As meninas sentiam um misto de inveja com o desejo enorme de serem amigas da nova aluna.
Ela, por outro lado, não facilitou a convivência desde o princípio. Era como se não sentisse necessidade de outras pessoas. Por isso, passou a ser um desafio para as estudantes conquistarem a amizade de Tamie. Como se fosse um troféu e ela, de fato, colocava-se em um pedestal.
Com o tempo, Tamie selecionou três outras moças para compor um grupo de amigas, levando-a à uma popularidade incrível. A moça não poupava esforços e nem recursos financeiros para manter a fidelidade de suas amigas, levando-as para passeios, restaurantes caros, shows, compras e todo tipo de programa jovem e caro. Tal comportamento só enaltecia mais o grupo e fazia que todas tivessem vontade de estar com ela, além de gerar uma obrigação nas pertencentes do grupinho a não abandonarem as demais.
Mas, ser amiga de Tamie, não era exatamente o que as meninas imaginaram que seria. Ela era extremamente fechada e as tratava como inferiores o tempo todo. Existindo assim, uma relação de servidão típica de filmes americanos adolescentes.
Em uma tarde, uma das meninas estava no quarto de Tamie quando notou um desenho muito bonito feito no grafite. Tamie contou que desenhava desde a infância e que era uma paixão sua, pois assim, conseguia expressar melhor seus sentimentos. Sua amiga ficou encantada e honrada quando a oriental aceitou lhe mostrar seus cadernos antigos de desenho. A menina compreendeu o gesto como uma confiança a mais em relação as demais, sentindo-se escolhida por Tamie.
No outro dia, durante a aula, a menina não resistiu e contou o acontecido para suas amigas. É claro que o fato gerou inveja e ocasionou uma discussão entre elas. Quando Tamie soube do que aconteceu, ficou furiosa de início. No entanto, ao acalmar-se viu que havia exagerado na postura e convidou todas as amigas para irem em sua casa para uma tarde de meninas e, na ocasião, mostraria o desenho para todas.
Por conseguinte, naquela tarde, o encontro aconteceu. Recheado com brigadeiros, pipocas de micro-ondas e conversas fúteis. As meninas se divertiam na casa em que Tamie vivia praticamente sozinha, uma vez que seus pais viviam no trabalho e em viagens internacionais.
No meio da tarde, Tamie trouxe seus cadernos e impressionou suas amigas com a delicadeza dos traços de seus desenhos. A admiração foi tanta que elas pediram para Tamie fazer um desenho para elas. Pedido este que fora negado veementemente, mas elas insistiram tanto, que Tamie fez um desenho para que elas parassem de incomodá-la.
O desenho era de uma menina com um olhar enigmático. Era de uma riqueza de detalhes digna de aplausos. Elas ficaram tão encantadas que Tamie as desafiou a ficarem olhando fixamente nos olhos da menina do desenho por pelo menos cinco minutos. Quando todas cumpriram o desafio, ela pediu para irem embora para suas casas pois ela estava muito cansada. As adolescentes que faziam de tudo por atenção, obedeceram Tamie e partiram.
No dia seguinte não houve aula. A escola em que estudavam estava de luto. As três amigas de Tamie, que no dia anterior haviam passado a tarde com ela, cometeram um ato extremo, cada uma em seu respectivo quarto. Uma por medicamentos, outra por enforcamento e outra por corte dos pulsos. Ninguém entendia o que havia acontecido e, por muitos dias, aquele pesar e tristeza pairaram pelo ar.
Assim que os pais de Tamie retornaram, ela foi trocada de escola. Todos atribuíram a mudança ao sofrimento em perder suas amigas, mesmo que ela não demonstrasse tristeza com o acontecimento sinistro.
Muitos anos depois, o mistério do suicídio coletivo foi solucionado. Tamie postou a foto da menina que desenhou para suas amigas em uma rede social e explicou no post que havia criado aquela imagem após suas amigas a irritarem pedindo com insistência um desenho, sendo que ela transferiu nele seu desejo de que aquelas meninas birrentas e carentes desaparecessem para sempre de sua vida. Ela sabia das regras de suas criações e vinculou que quem olhasse fixamente para aquela foto por um período, sentiria um inevitável estimulo para a morte. E foi o que aconteceu com as meninas, foram induzidas a se matarem.
Os pais de Tamie sabiam do poder de seus desenhos. No Japão ela havia aprendido a desenhar com sua melhor amiga, que acabou se suicidando após criar um desenho idêntico ao feito por Tamie. Entretanto, ela usava sua arte para eliminar quem queria. Ao longo da vida dela, fez isso inúmeras vezes e ninguém imaginava que ela era a responsável.
Porém, um dia cansou-se do seu segredo e lançou na internet seu desafio de morte. Ela sempre gostou de ser cobiçada e a vida adulta lhe tirou esta competitividade por atenção. Quando percebeu o quão arriscado era para ela conviver com isso, preferiu alcançar o feitiço da morte e desenhar nas profundezas do inferno.
Ninguém nunca conseguiu apagar o desenho de Tamie das redes sociais. Portanto, é necessário muita cautela, pois quem se seduzir com o mistério dos olhos do desenho, provavelmente encontrará Tamie em seguida.