Era a sétima vez que Justin assistia o filme Caça às Bruxas naquela semana. Ele estava obcecado e tinha absoluta certeza de que a história da Chave de Salomão era real, porém não conseguia achar nada na Internet a não ser alguns relatos de como a chave era algo extremamente poderoso e importante.
Justin baixou inúmeros PDFs falsos e, uma vez, chegou a comprar um exemplar na Internet, mas o livro que chegou foi um exemplar de Crepúsculo – não necessita dizer que o livro foi ignorado e, nos dias de hoje, era usado como peso pra porta, pois o rapaz não conseguira o reembolso.
Ele não conseguia sequer dormir direito, o mundo do sobrenatural consumia sua curiosidade e pensamentos. Então, se ele não conseguia o livro traduzido, ele teria de tentar traduzir o exemplar original em hebraico, mas era uma ideia que demoraria cerca de mais ou menos uns dois anos e ele não podia esperar tanto tempo assim ou ficaria maluco.
Em um chat na Internet, ele descobriu que um dos sacerdotes da igreja local tinha origem hebraica. E se Justin trocasse a tradução do livro por uma doação para caridade ou algo assim? Ele precisava tentar barganhar.
O dia mal havia iniciado e Justin já estava na porta da Igreja. O sacerdote Elliot viu o garoto no frio e acomodou-o no recinto. Após uma longa conversa sobre religião e catolicismo, Justin contou ao padre seu verdadeiro fascínio: ele precisa mais que tudo nesse mundo conseguir ler a Chave de Salomão.
Ao escutar o nome do livro, o pontífice petrificou-se por completo. Ele sabia que aquilo não era para crianças brincarem, pois se tratava de algo deveras importante e perigoso. Era uma espécie de Wikipédia de demônios de todos os tipos e de como combate-los. Elliot tinha um exemplar que ele mesmo havia traduzido, porém ocultou isso de Justin e fingiu não saber do que se tratava a leitura.
A conversa não se prolongou muito e Elliot levou o rapaz até a porta para que fosse embora, mas Justin percebeu o nervosismo do padre e decidiu que descobriria o que ele estava escondendo.
A partir daí, todos os dias Justin ia para a igreja de manhã cedo e só saía quando Elliot fechava as portas. Todo dia a mesma coisa durante uns quatro meses. O sacerdote nem conseguia mais se concentrar mais em seus sermões. Visto isso decidiu emprestar seu exemplar para Justin que o agradeceu inúmeras vezes e foi pra casa feliz. Algo na escuridão observou os passos de Justin, o livro que estava na mão do rapaz causava uma perturbação imensa no sobrenatural e precisava ser destruído.
Já em em casa, o moço ainda trêmulo, abriu o livro -que mal conseguia enxergar por causa das lágrimas de felicidade -, leu alguns trechos sobre demônios de origem astral e encantou-se por cada um. O sono começou a pesar e o rapaz deitou abraçado ao livro que lutou tanto para conseguir.
Durante a madrugada, um ser completamente deformado e com a parte inferior do corpo em forma de uma serpente negra, surgiu pelo lado mais escuro do quarto. Observou o maldito livro que há anos fora imposto a ser destruído e trincou seus dentes pontiagudos.
Finalmente aquele maldito livro estava fora da proteção da igreja ou daquele sacerdote exorcista que o havia expulsado algum tempo atrás. O Demônio abocanhou o pescoço de Justin e arrancou sua jugular, pegou o livro engoliu por inteiro com sua boca monstruosa e desapareceu assim como surgiu.
Na manhã seguinte, Justin foi achado morto em sua cama por sua irmã de 5 anos. As autoridades locais tentaram achar um culpado, mas não conseguiram achar nenhuma pista. Na igreja, o padre Elliot foi achado morto, enforcado. Ele se suicidou, pois não conseguiria mais viver com a culpa de ter matado um menino por puro capricho.