Catarina

por Mundo Sombrio
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Aquele casal apaixonado só não era totalmente feliz pois não conseguia ter filhos. Casados já há algum tempo, viviam esta frustração. Clínicas de fertilização, médicos especialistas, muitos exames dolorosos e tratamentos demorados, além de muitos gastos e expectativas… A mulher fazia promessas aos santos e as vezes se pegava maldizendo a todos eles e duvidando por vezes da existência Divina quando chegava sua menstruação.

Todas as suas amigas já tinham filhos, menos ela. Era frustrante! Humilhante! Assumidamente invejava-as. E assim o tempo passava…

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Após quase perderem as esperanças, foram agraciados com a tão sonhada gravidez. Era o momento mais feliz de suas vidas! Iniciando-se após a descoberta do sexo do bebê, seu mundo cor de rosa… Em pouco tempo, a felicidade virou preocupação. A gravidez iniciou-se muito complicada. Sangramentos e cólicas resultando em repouso absoluto no leito. Hipertensão. A mãe que era de um todo saudável, passou a ter pressão alta.

Os enjoos que eram comuns somente no início da gestação, foram até quase que o final da mesma. Ela não curtiu aquela gravidez tão esperada. Permaneceu apreensiva e torcendo a todo momento desesperadamente para que desse certo. Não havia sossego, não dormia, não ficava em paz com medo de perder seu bebê. Passou quase todo o período gestacional internada e/ou em repouso em casa. Contava com a ajuda de sua mãe, que passou a residir com o casal devido aos problemas de saúde da filha desenvolvidos durante a gravidez.

Depois de um parto que também fora complicado, pois perdera muito sangue na cesariana realizada, nasceu Catarina. Uma linda menina forte e robusta. Sua mãe, apesar de debilitada após o parto, não se continha de tanta felicidade. Todos estavam radiantes com o nascimento daquele bebê.

Já em casa, após a alta hospitalar, Catarina era um bebê que tinha um sono agitado, dormia pouco e chorava muito, quase não dando descanso a sua mãezinha. Chorava muito. Exames eram feitos e a resposta dos pediatras era de que nada tinha de anormal com a criança.

Sua mãe perdia noites de sono, ficava exausta apesar da ajuda que recebia de seu marido e de sua mãe. O bebê só queria ficar no peito e durante o dia dormia tranquila. Catarina então foi crescendo e desenvolvendo-se normalmente e, por ser filha única, era cercada de mimos e cheia de presentes e vontades.

Ao completar 4 anos, ganhou um cachorrinho de seu pai. Ficou muito contente com o presente, brincava com o bichinho durante o dia todo. Dias depois, Catarina foi de encontro aos seus pais chorando e referindo que o cachorrinho havia caído da janela do segundo andar. Eles a consolaram e disseram que tinha sido um lamentável acidente…

Catarina adorava fazer brincadeiras. Amarrou um fio de náilon na escada de casa, onde sua avó tropeçou, rolando da mesma e ficou seriamente ferida. Ela teve fraturas por todo o corpo e traumatismo craniano. Houve cirurgias, a idosa ficou internada e posteriormente permanecendo restrita à uma cadeira de rodas e com sequelas neurológicas, não mais falava.

Catarina cuidava bem de sua pobre avozinha acamada. Um dia, a mãe chegando ao quarto da avó, que encontrava-se dormindo, viu que Catarina estava ajeitando seu travesseiro cuidadosamente … “Tadinha da minha filha, como é dedicada!, pensava orgulhosamente a mãe da menina.

Mais tarde, naquele mesmo dia, a pobre senhora veio a falecer para tristeza de todos, principalmente de Catarina, que ficou muito triste com a morte da avó, pois fazia muita companhia à ela. Durante a noite, olhava para o céu, sentada no colo de seu pai e mostrava-lhe a estrelinha na qual a avó se transformara…

Catarina quase não tinha amigos, as crianças a rejeitavam. Ela batia, mordia e ameaçava os coleguinhas da escola. Causava intrigas e fazia com que ficassem de castigo inventando coisas para a professora. Tanto na escola como na vizinhança, as crianças não gostavam dela, a ignoravam, não a deixando entrar nas brincadeiras e, quando entrava, alguém saía machucado ou alguma briga acontecia.

Seus pais não entendiam o porquê de as crianças boicotarem a tão doce garotinha deles. Catarina chorava, era sempre vitimada e injustiçada. Mas dizia não se importar, pois tinha suas bonecas. Para abrandar e tentar agradá-la, enchiam-na ainda mais de mimos.

Achando que a menina precisava de companhia, adotaram um bebezinho, temendo uma outra gravidez complicada. Catarina adorou a chegada do irmãozinho do coração e dizia que o bebê seria só dela. Gostava muito de ajudar a mãe a cuidar dele. Ajudava a mãe a trocar as fraldas, a alimentá-lo, cantava para ele dormir…

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Naquele dia, a empregada faltara. Sua mãe encontrava-se cheia de afazeres domésticos pendentes e mais o bebê para cuidar. A mãe dava banho no bebê na banheira e Catarina ofereceu-se para ajudar, enquanto sua mãe foi à cozinha verificar suas panelas no fogo. Alguns minutos se passaram e Catarina correu até a mãe e disse-lhe que havia algo errado com o bebê. A mãe encontrou o bebê já cianótico, ou seja azulado na banheira. Chamaram socorro médico, mas nada se pode fazer. Foi um “terrível acidente”, uma fatalidade…

Todos lamentaram muito a morte do bebê, especialmente Catarina. Os pais desolados e cansados, sentados no sofá da sala após o sepultamento da criança, receberam então o abraço de sua filhinha querida que disse num tom meigo e consolador:

“NÃO CHOREM PAPAI E MAMÃE, EU VOU CUIDAR DE VOCÊS!”


ESCRITO POR: Silvia Restani

ADAPTADO POR: Mundo Sombrio

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