Finalmente amanheceu. Mas, eu já estava acordado contando os segundos para o despertador tocar e, até que enfim, tocou!
“Mary, ACORDA! Tá na hora, vamos! Precisamos nos arrumar logo! Bora!”, cutuquei minha irmã pra que ela acordasse logo, meio difícil, já que ficou acordada noite passada por causa de um pesadelo e cismou em vir dormir na minha cama.
“Tá um cheiro estranho aqui!”, eu disse.
Por conseguinte, desliguei o alarme com apenas um safanão. Assim, num simples pulo, já estava no banheiro.
Tomei banho e escovei os dentes ao mesmo tempo, pra não perder nenhum minutinho daquele dia maravilhoso. Ah é, não contei a vocês né? Nós íamos para um acampamento com a galera. Claro que, para muitos de vocês, pode não ser grande coisa, mas era o nosso primeiro acampamento, portanto, eu estava radiante, já Mary, eu não sei ao certo.
Terminei!
Me enrolei na toalha e saí correndo pelo quarto, jogando água pra tudo que era lado.
“Vamos Mary, levanta! Vai logo pro banheiro! Temos que nos apressar”. Ela levantou resmungando, com cara de sono, mas foi.
“Toc, Toc, Toc”, assim bateram na porta do quarto.
“Luck, tá na hora de…”
“Oi mãe!”, falei enquanto abria rapidamente a porta ainda de toalha.
“… acordar”, ela completou depois de eu a ter interrompido.
“Já até tomei banho e escovei os dentes! Tô muito animado! Será que vai ser bom? Acho que vai, todo mundo vai…”
“Ei! Ei! Ei! Calminha aí rapaz! Você está tão animado que é capaz de sair daqui só de toalha mesmo. O Café já está pronto. Reveja tudo o que precisa levar pra não acabar esquecendo nada, inclusive suas calças e desça para comer. Ande logo senão não vai dar tempo”.
“Tá mãe!”, fechei a porta rapidamente e fui terminar de me arrumar.
“Vamos Mary, anda! A gente vai se atrasar desse jeito!”, eu falei enquanto ela já estava saindo do meu quarto para terminar de se arrumar.
“E você ouviu a mamãe né? Não esqueça de levar nada”. Ela acenou com a cabeça e fechou a porta.
PRONTO! Eu já estava arrumado. Mochila pronta e está tudo aqui, será? Acho que não esqueci de nada. Saio correndo do quarto repassando a lista de coisas na mochila pra ter certeza de não ter esquecido nada. Dei duas batidas na porta do banheiro social e disse:
“Bora!? Tá na hora” e desci correndo.
“Até que enfim heim? Desse jeito não vai dar tempo de…”, tentou dizer minha mãe, mas fora interrompida pela buzina da caminhonete do pai do James, meu amigo de classe.
“Viu?! Falei que não ia dar tempo!”, ela esbravejou.
Enquanto isso, Mary desceu as escadas, passou pela cozinha e se dirigiu pra porta, quando da cozinha minha mãe gritou:
“Divirtam-se lá! Tomem cuidado todos vocês. Por favor, não me arranjem problemas!”
Mary acenou com a mão, com a cabeça e eu gritei:
“Tá mãe! Te amo!”, enquanto saía pela porta feito um furacão.
Eu estava ansioso demais. Era nossa primeira vez com o pessoal em um acampamento. Só os jovens, nada de adultos. Com certeza, vai ser demais.
Mary já estava na parte de trás da caminhonete, onde também subi e, assim, partimos todos para nossa aventura na floresta.
Nosso grupo era formado por mim, James, Selena, Cory, Louis, Natan, Martha e Mary, minha irmã. Ela era a única que não era da nossa classe, mas como era minha irmã, eu não poderia deixar de levá-la, não é mesmo?
Assim que chegamos no local do acampamento, dava pra perceber que era completamente diferente da cidade grande. O ar puro, o som dos pássaros, do vento batendo na copa das árvores, da cachoeira que caía direto no rio, o cheirinho de flores. Era tudo muito lindo. Eu estava em completo êxtase.
O pai de James nos deu muitas instruções antes de ir, mas ele não iria muito longe, pois a cabana deles ficava mais ou menos há uns 2km dali. Ele nos ajudou a montar as barracas e nos mostrou como pegar gravetos para fazer o fogo para o jantar.
“Prestem bastante atenção heim? Não esqueçam de jantar e depois apagar o fogo, pois não queremos nenhum incêndio por aqui! Ouviram!?”.
“Sim senhor!”, dissemos todos em coro.
Ele virou as costas, entrou no carro e partiu.
Estávamos sós no acampamento! OBA! Até que enfim.
Como já estávamos de roupa de banho por baixo, tiramos tudo ali mesmo e corremos direto para o rio para tomar banho, mas parece que Mary não estava muito afim. Enquanto todos estavam se divertindo na água, ela estava sentada dentro da barraca, resmungando baixinho e segurando o coelhinho que ela tanto gostava.
Eu fiquei meio apreensivo quanto aquilo. Poxa, nós viemos aqui nos divertir e ela não estava aproveitando o momento. Resolvi deixar pra lá, ela não gostava muito de socializar mesmo. Deixa ela quietinha lá no cantinho dela. Mais tarde conversamos.
Já era 17h da tarde e estava ficando escuro.
“Pessoal, é melhor irmos pegar os galhos pra fogueira né? Já está ficando tarde e eu não quero ter que entrar nessa floresta escura não. Já ouvi cada história de floresta que me arrepia a espinha só de lembrar!”, disse Martha.
“Não tem problema Martha! Se você não for, eu vou!”, assim falou Cory, o “corajoso” da turma.
“É, vamos sim! É melhor não arriscarmos”, eu concordei.
Por conseguinte, saímos todos da água. Fui pra barraca pra me enxugar, trocar de roupa e Mary ainda estava lá, sentada, resmungando baixo e com seu coelhinho de pelúcia no colo.
“Mary, o que você tem?”, perguntei. “Você não está gostando do acampamento?”.
Ela me olhou um pouco, mas baixou a cabeça e voltou a resmungar.
Então deixei quieto. Troquei de roupa e me encontrei com o pessoal do lado de fora.
“Vamo s dividir as tarefas”, eu disse. “Eu, James, Martha e Selena vamos pegar os galhos pra fogueira. Enquanto isso, os outros podem ir temperando a carne e preparando os espetos, pode ser assim?”.
“Certo!”, assim todo mundo concordou.
Uns 40 minutos depois, já estávamos de volta ao acampamento.
Passei pela barraca e vi Mary dormindo.
“Ei, nós já voltamos e vamos preparar o jantar. Você não vai comer?”, perguntei à ela, mas não houve resposta.
“Você tá cheirosa! Tomou banho porquinha?”, eu brinquei.
Ela levantou o braço, balançou a cabeça negativamente, agarrou o coelhinho e voltou a dormir.
“Você não pode ficar com fome Mary!”, eu continuei.
“hum…”, ela resmungou.
“Ok! Como você quiser”, falei enquanto saía da barraca.
Acendemos a fogueira e nos pusemos sentados ao redor dela.
Comemos muita carne assada, tomamos muito refrigerante e conversamos muito.
Falamos dos professores, dos outros colegas, inclusive da diretora que tinha um sinal preto e peludo na ponta do queixo:
“Parece até que ela dá comida pra ele! HAHAHA!”, falou Louis fazendo todos gargalharem naquele momento.
“É verdade! HAHA! Quantos anos aquilo deve ter? Uns duzentos! HAHAHA!”, completou Natan.
“PARA! PARA! Vou me mijar!”, gritou James, gargalhando e correndo pro canto se segurando para não fazer nas calças.
Era uma gargalhada só. Todos rindo, brincando e curtindo a noite. Até que o sono bateu e resolvemos ir dormir.
Apagamos o fogo jogando areia nele, bem como o pai de James nos ensinara mais cedo e fomos pras nossas barracas.
Chacoalhei a areia dos pés antes de entrar. Mary estava num sono profundo. Já estava de camisola e respirava baixinho agarrada ao seu coelhinho. Me ajeitei com o mínimo de movimentos possível para não acordá-la. Virei de lado e dormi.
Ah como é bom acordar dentro de uma barraca com o som dos passarinhos e o cheiro de flores logo pela manhã. Pretendo fazer isso muito mais vezes.
Virei para o lado e Mary já não estava lá. Olhei para fora da barraca e ela estava lavando os pés na beira do lago, ainda de camisola e segurando seu coelhinho.
Eu gritei pra ela:
“Vamos! Precisamos nos arrumar para ir. Já já o Pai do James vem pra nos buscar e temos que estar prontos”. Ela me olhou e voltou a lavar os pés.
“Já estamos indo!”, disse Cory, “Não precisa nos apressar tanto!”, ele completou.
Desfizemos as barracas, ensacamos o lixo e arrumamos tudo. Deixamos tudo bem limpinho.
Pouco tempo depois, ouvimos a buzina da caminhonete dos pais de James que já apontava ali por perto para nos buscar. Estava na hora. Infelizmente aquele acampamento legal estava acabando. Mas com certeza, nós vamos vir mais vezes.
Assim que o pai de James chegou, ele teve a brilhante ideia de juntar toda a criançada e tirar um retrato como lembrança daquele dia que passamos juntos.
“Vamos tirar um retrato?”, disse ele.
“Boraaaaaa!”, todos concordaram.
“Pode tirar com meu celular tio?”, eu perguntei a ele enquanto tirava o meu aparelho do bolso.
“Claro!”, ele respondeu, “Mas depois não esqueça de dar uma cópia pra gente viu?”, completou.
Fiz um sinal de legal e dei o aparelho pra ele.
Juntamos todos em frente a um arbusto bem bonito de flores brancas que tinha entre as árvores ali perto. Era um lugar bem legal para se guardar de recordação.
Me posicionei na frente com Mary, pois éramos os baixinhos da turma. Peguei em sua mão e na outra ela permanecia segurando seu coelhinho branco.
Batemos a foto, entramos no carro e fomos embora.
Eu estava muito feliz, radiante, pra falar a verdade. Até então, aquele dia, tinha sido o mais feliz da minha vida.
Assim que chegamos em casa, nos despedimos do pessoal e entramos.
Mamãe já estava na cozinha preparando o almoço, pois já estava quase na hora do “rango”. Assim que percebeu nossa chegada ela gritou de lá:
“E aí, como foi? Se divertiram muito?”.
Mary atravessou a sala, a cozinha e subiu as escadas, balançando a cabeça afirmativamente.
“Sim mãe!”, eu respondi muito empolgado. “Foi muito bom! Bem legal mesmo! A senhora acha que qualquer dia desses podemos ir novamente?”, perguntei com “carinha de cachorro pidão”.
“Se vocês forem tão responsáveis como foram dessa vez, é claro que sim!”, veio me dando beijos com cheiro de frango.
“Eca mãe! A Senhora tá fedendo, credo! HAHA!”, falei rindo dela.
“Olhe, olhe garoto! Eu te pego de jeito menino! Haha!”, ela entrou na brincadeira.
Subi as escadas correndo e fui direto pro computador, pois estava louco pra ver a foto que tiramos lá no acampamento.
Conectei o celular no PC, copiei a foto e a abri.
Nesse mesmo instante, minha mãe entrou no quarto e perguntou o que eu estava fazendo.
“Estou copiando a foto que tiramos lá no acampamento mãe. Vou fazer isso logo pra poder passar pro pessoal, pois o pai do James me fez prometer que iria mandar pra eles também”, eu respondi.
“Olha que legal!”, falou se aproximando de mim. “E estão todos aí? Os que foram?”.
“Sim mamãe, olhe! Esse aqui é o James, foi o pai dele que nos levou pra lá. Essa aqui é a Martha. Esse aqui depois dela é o Louis. Essa é a Selena, a garota que eu gosto. Esse aqui do canto é o Cory. Esse do meu lado esquerdo é o Natan e aqui estamos eu e a Mary”, expliquei à ela. “Mãe, a senhora acredita que ela não quis comer e nem brincar. Ela só ficou na barraca resmungando e segurando aquele coelhinho encardido dela…”, continuei falando sem parar.
Mas, enquanto eu explicava à ela todo o comportamento estranho da minha irmã durante aquele dia, eu não percebi o estado de choque em que ela se encontrava.
Assim que virei e a olhei, ela estava pálida, de boca aberta e olhos arregalados. Foi então que uma lágrima es correu pelo seu rosto.
“Mãe, está tudo bem? O que houve!?”, perguntei assustado.
Ela demorou um pouco para cair em si e com um suspiro muito profundo me olhou e disse:
“Filho, tenho uma coisa muito séria pra te contar”, falou quase gaguejando. “Antes de você, eu e seu pai tivemos uma filha a qual demos o nome de Mary. Porém, aos 12 anos de idade, ela contraiu uma pneumonia muito forte, pois esquecera de manter a janela fechada durante a noite. Nós tentamos de tudo, mas infelizmente ela não suportou e faleceu. Seu pai me culpa até hoje por isso e, foi justamente por não aguentar mais, que ele nos deixou assim que engravidei de você. Apesar da dor que estávamos sentindo quando sua irmã morreu, eu quis dar à ela um enterro digno. Resolvi encher o caixão com muitas Jasmins e enterrá-la abraçada com o seu coelhinho favorito. De longe, foi o pior momento das nossas vidas”.
Eu fiquei apavorado e muito confuso. Como pode!? Eu estava com ela! Falei com ela! Saímos juntos, estivemos juntos todo esse tempo. Como pode?!
“Não mãe! É mentira isso! Não pode ser! Eu estava com ela! Até dormimos juntos essa noite porque ela estava tendo pesadelos!!!”.
Então, ela levantou da cama sem falar nada e saiu.
Eu estava pasmo, muito assustado. Não conseguia acreditar no que acabara de ouvir.
Foi quando virei novamente para o computador e me vi na foto, com o braço esticado segurando o nada.
Depois de tudo isso, nunca mais vi Mary e nem senti o seu perfume de flores.
E aí, o que você achou da História de Terror “O Acampamento”? Você gosta de acampar? Gosta de acampamento? Conhece alguma história de terror de acampamento? Deixa pra gente a sua opinião aí nos comentários. Abraços Sombrios.