Era um dia como qualquer outro. Estava quente e seco. O sol castigando os braços semicobertos pelo uniforme da escola, o suor escorrendo pelas costas, ela arfava um ar quente e ácido. Enfim chegou em casa, deu um abraço em sua mãe e entrou no seu mundo particular: o quarto.
Após se despir com pressa, entrou para o banheiro e ligou o chuveiro frio. Deu meia volta e parou em frente ao espelho, olhando para seu reflexo pálido. Não pensava em nada, apenas o vazio na sua mente. Foi quando notou que o barulho da água escorrendo pelo azulejo havia parado. Voltou seu corpo para o box do banheiro e o ligou novamente. Continuou então o que estava fazendo, observando seu próprio vazio quando outra vez percebeu que o barulho da água havia parado. Voltou-se novamente para o box e direcionou sua mão até a válvula, quando sua mão sentiu o toque do metal, a temperatura caiu drasticamente fazendo-a tremer de frio. O banheiro foi ficando escuro e começou a ouvir uma valsa melancólica ao fundo, causando um eco por conta dos azulejos. Ela ficou paralisada de medo e sentiu sua urina quente descer por suas pernas. Como uma reação impulsiva; saiu correndo em direção ao banheiro do quarto de seus pais.
Criou coragem e tomou um banho de gato.
Comeu; assistiu tv e resolveu ir para seu quarto dormir.
Finalmente adormecera e entrou em sono profundo. Começou a ter uma visão que estava na companhia de suas primas, se deliciando de um belo sorvete num lugar que parecia um sonho. Resolveu tomar mais um e foi até o balcão. De repente começou a ouvir uma música, aquela música lhe era familiar. Logo sentiu um frio na espinha na medida em que o volume da música aumentava, então percebeu que era a mesma música que ouvira no banheiro.
Ela tremeu de medo e foi correndo em direção de suas primas, o coração acelerou e a boca secou ao ver que todas elas estavam com os rostos retorcidos. Correu de volta para o balcão para pedir ajuda ao sorveteiro, mas ao olhar para seu rosto, sentiu o estômago revirar e o pânico a preencher seu corpo quando viu que o rosto do homem havia se transformado em um demônio horrível, com olhos grandes e negros. Ele soltou uma risada gutural à medida que o som da valsa aumentava.
Ela gritou o mais alto que conseguia e fez de tudo para acordar daquele pesadelo infernal, quando enfim sentiu que estava deitada de bruços em sua cama, sentiu um mínimo alívio. Fez toda força para abrir os olhos e quando conseguiu, o demônio a estava encarando em seu próprio quarto e rindo sarcasticamente ao som da valsa do terror. Logo ela viu que quanto mais ele se aproximava dela, mais ela ficava paralisada; não conseguia se mexer e nem falar, mas com o pouco da força que tinha ela grunhiu baixinho. Sua mãe ao ouvir o pequeno grunhido, entrou no quarto com toda a rapidez que pôde e logo viu o estado em que ela se encontrava: presa em sua cama pelo demônio. Sua mãe proferiu as seguintes palavras:
O SANGUE DE CRISTO TEM PODER! O demônio urrou e voltou para as trevas libertando a garota.
Ela nunca mais foi a mesma. Embora agora sempre valse sozinha durante a noite.
Por: Flávia K