A Estranha Dama

Numa noite de sexta-feira, Manuel, 38 anos, preparava-se para ir ao baile, próximo de seu bairro, passou na casa de seu amigo Gerson, de 40 anos, e juntos caminharam até o local.

Após entrarem, tudo era alegria, música, dança e bebida. Eles ficaram na beira da pista de dança, ansiosos por arranjar alguém que quisesse dançar, entre as que estavam sentadas.

Foi então que Manuel viu entrar, passar na sua frente e depois sentar-se numa mesa próxima, uma linda e estranha mulher, que irradiava pela sua beleza única: com um vestido justo e preto, sandália preta de salto alto, pele clara, olhos verdes claros, cabelos pretos, longos e cobertos por um lenço preto e, estranhamente, duas cruzes no peito, uma abaixo da outra. Devia ter entre 30 e 40 anos, com 1,65m de altura e menos de 60 quilos, bem distribuídos.

Manuel não hesitou em lançar-lhe um sorriso que, correspondido, à tirou para dançar. E eles dançaram e beberam juntos a noite toda. Ela se apresentou como “Valéria”.

Outras pessoas do baile olhavam com atenção, pois ela não era do bairro e nunca ninguém a tinha visto antes. Mas Manuel, pouco se importava que estavam sendo observados. Ele estava encantado com a beleza da bela dama e o seu ego estava em alta!

Mas a noite estava acabando e aproximava-se o amanhecer. Gerson chegou perto do seu amigo, dizendo para que fossem embora. Manuel respondeu-lhe que “ele fosse”, porque acompanharia Valéria até sua casa.

Foi assim que Manuel saiu do baile, como um cavalheiro, escoltando a sua dama. Ainda era noite e eles caminhavam, enquanto conversavam e riam muito.

De repente, o jovem começou a notar que estava no meio de um bosque, distanciado da comunidade do bairro. Parou, olhou à sua volta e não conseguia distinguir onde estava. Quando quis perguntar à Valéria se reconhecia o caminho, ela já não estava ao seu lado.

Manuel deu alguns passos lentamente, quando a viu sair de trás de uma árvore. Respirou aliviado, ao vê-la, mas notou que seu semblante já não era o mesmo: seu rosto lindo e angélico, tinha se transformado em um ser perverso e assustador, seu cabelo e o seu olhar era como o de um animal feroz.

Manuel recuou alguns passos e passou a correr, mas Valéria o alcançou, arrastando-o para um canto escuro, enquanto dizia: “És só meu!”…

O amanhecer chegou, os primeiros raios de sol estavam espreitando, quando a estranha dama jogou Manuel nú, junto à um barranco, com todas as suas roupas despedaçadas.

Lentamente, Valéria se aproximou dele, sorrindo, acariciando-lhe o rosto e, com uma voz maquiavélica, disse-lhe:

“– O amanhecer chegou! Tenho que ir embora. Mas, mais cedo ou mais tarde, você irá comigo, por toda a eternidade!”

Ela elevou-se no ar, gargalhou sarcásticamente, esticou seus braços e esfumaçou-se, ante os olhos atônitos de Manuel.

Horas depois, um capataz da região o encontrou: Manuel estava em estado de choque e só murmurava que o levasse prá casa. O homem ajudou ele, arrumando-lhe umas roupas e o conduziu para casa, feito um moribundo.

Manuel nunca disse nada sobre o que realmente aconteceu, mas delirava vezes sem conta:

“– Cuidado! A estranha dama está chegando, começa a correr ou ela vai te pegar!”

Foi internado num hospital psiquiátrico, onde à noite todos o ouvem gritar:

“– Cuidado! A estranha dama está chegando, começa a correr ou ela vai te pegar!”

Era tudo o que ele pronunciava, enquanto ria alto e dançava sozinho na escuridão daquele quarto frio, onde só parava após injeções de fortes tranqüilizantes.

Quando acordava, nos poucos momentos de lucidez, rezava pela sua alma, porque já se julgava condenado à viver eternamente nas profundezas do inferno… junto com a estranha dama!!!

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Da obra “Histórias de Terror”, México. Tradução, adaptação e pesquisa: Sérgio Gitel. Foto meramente ilustrativa, qualquer semelhança terá sido uma coincidência.