Acordei no meio da noite ao ouvir alguém sussurrar meu nome, abri os olhos ainda pesados vagarosamente, e não dei muita importância, de certo era um sonho. Deitado na cama estava e assim permaneci. Porém, agora com os olhos abertos, sonolento ainda, relutante em levantar-me – o que é comum a todos nós-, foi quando ouvi novamente o sussurro. Eu já estava desperto agora, ou não? Seria ainda um sonho…
Nesse momento ouvi novamente o mesmo sussurro, meu nome. Então sentei-me na cama, olhei ao redor, senti um vazio estranho no quarto, um silêncio inquietante e, novamente ouço meu nome. Dito desta vez de forma abafada, quase asfixiada.
Levantei-me rápido, corri até a porta e a abri lentamente. Olhei cautelosamente pela fresta e nada. Tudo normal, apenas estranhamente silencioso e gélido. Saí do quarto descalço e sentia o piso frio congelando meus dedos. Me dirigi rapidamente ao quarto da minha mãe. Andando na ponta dos pés, estremeci inteiro ao me deparar com o quarto dela completamente vazio, sem móveis, sem nada. Foi quando voltei meus olhos pra sala e notei que também estava completamente vazia. Andei apressadamente pelos outros cômodos da casa e me dei conta que não havia nada, a casa estava vazia. Não havia ninguém em casa além de mim. Um vento frio soprava pelos cômodos vazios, a casa parecia enorme agora.
Voltei rapidamente para o meu quarto, o qual também estava vazio agora. Então pensei comigo mesmo: “Só pode tratar-se de um sonho”. Afinal, minutos antes, eu estava em minha cama deitado, dormindo… Mas ao mesmo tempo era tudo tão real, tão sólido e palpável. Atravessei meu quarto vazio até a porta que dava acesso ao quintal e a abri lentamente. Não pude acreditar em meus olhos. Meu coração bateu acelerado. Eu não entendi o que vi diante de mim. Era inacreditável.
Senti o sopro da noite tocar meu rosto com suave aroma de flores. Achei que a escuridão me pregava uma peça. Forcei a vista procurando algo que ali faltava, procurando algo que não estava mais ali. Diante de mim, uma terra completamente estranha se apresentava. A lua cheia enorme iluminava aquela paisagem desconhecida que se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Olhei ao redor e já não vi mais minha vizinhança.
Nesse momento ouvi novamente alguém sussurrando meu nome. Tive medo e hesitei por alguns instantes a sair pela porta mas, ao mesmo tempo, tentava me convencer de que aquilo tudo não passava de um sonho e que, portanto, não havia um perigo real a temer. Fiquei ali parado, olhando para aquele mundo desconhecido e pensando que em algum momento eu haveria de acordar.
A dúvida e a curiosidade me corroíam por dentro. A vontade de desbravar aquele mundo, ainda que fosse nos meus sonhos, era um impulso quase incontrolável, o de sair pela porta. Mas estava tão escuro lá fora. Apenas a lua iluminava e vento soprava, e eu ali, parado na porta, tentando ainda convencer a mim mesmo de que era apenas um sonho! Belisquei-me, e doeu. Então, o que fazer?
Voltei meus olhos pra dentro do quarto, e o mesmo permanecia vazio e muito escuro. Foi quando tive a ideia idiota de dar um chute na parede, e a parede do closet me pareceu ideal, algo que me fizesse acordar, ou não. Então fechei os olhos e chutei a parede com toda a força. NOSSA COMO DOEU! Pelo visto, não funcionou como eu esperava. Eu rolei no chão de tanta dor. E ali fiquei por um momento, sem entender nada. Afinal, se não acordei, aquilo tudo era real?
Foi então que ouvi novamente o sussurro, vinha agora de dentro do closet. Tive um certo receio em olhar para dentro dele. Tive medo do que poderia estar ali dentro me chamando pelo nome. Mas não me restavam muitas opções. Então, prendi a respiração e fui apalpando a parede até a entrada com os olhos ainda bem fechados e, quando percebi que já estava dentro dele, abri vagarosamente os olhos. Na parede do fundo do closet tinha um grande espelho que tomava toda ela, mas parecia não estar mais ali. Foi quando percebi que, o que faltava ali era o meu reflexo, o espelho estava ali, mas era como se eu não estivesse. Eu não refletia no espelho.
As coisas ficavam cada vez mais estranhas. Como o quarto estava escuro, fui me aproximando mais do espelho e, realmente, ele não me refletia. Ao me aproximar mais, notei que ele na verdade não refletia nada e, através dele, eu via meu quarto como deveria estar: o armário cheio de roupas bagunçadas; a luminária; meu desktop… Foi quando ouvi mais uma vez alguém sussurrar meu nome e, através do espelho, uma sombra se aproximou lentamente de mim. Percebi que era meu gato Miúdo. Veio em minha direção olhando diretamente para mim do outro lado do espelho. Ele se sentou bem de frente a mim e ficou me encarando. A essa altura eu já havia perdido a noção de realidade.
Sentei-me diante do espelho e o chamei na esperança de confirmar que ele realmente me enxergava. Então, de repente, eu ouvi o sussurro, meu nome, através da boca do meu gato. Sim, ele disse o meu nome e sim, ele me olhava diretamente nos olhos. Feito isso, ele se levantou, deu as costas a mim e caminhou como que fosse embora, mas olhou pra trás e novamente sussurrou meu nome, e disse: Pedro acredite! E seguiu andando… Estiquei meu braço na direção do espelho na intenção de alcançá-lo e, quando o toquei, ele fez ondulações como algo líquido, como um lago. Eu já não duvidava de mais nada
Me enchi de coragem, fechei os olhos, prendi a respiração e lancei-me contra o espelho. Ele foi me envolvendo. Senti-me sendo puxado até estar completamente envolto em algo que parecia óleo, só que mais espesso, mais sólido e, ao mesmo tempo, liso. Tentei abrir os olhos, mas não consegui. Ficava cada vez mais difícil de mome mover. Parecia que, quanto mais eu tentava, mais pesada e consistente aquela coisa que me envolvia ficava. Até que comecei a me sentir cansado e asfixiado. Então, já sem forças, apaguei.
Não tenho a noção do tempo que permaneci desacordado, mas despertei ao sentir algo áspero roçando em meu nariz e, quando recobrei os sentidos, estava ali, deitado, dentro do closet e Miúdo lambendo meu nariz. Olhei rápido para o espelho que agora refletia tudo normalmente. Saí engatinhando dali de dentro e vi minha cama, minha bagunça toda. Então, suspirei aliviado.
Segui engatinhando até minha cama, deitei e fiquei um tempo pensando, teria sido um sonho? Ou melhor, um pesadelo? Sonambulismo talvez? Foi quando ouvi novamente o sussurro. Cobri-me rapidamente até a cabeça com o edredom e decidi que, por hora, não ia mais atender a nenhum chamado… nenhum grito que fosse, e nem era o momento de conferir se Miúdo realmente havia começado a falar…
A História de Terror “Sussurros da Noite”, foi escrita por Pedro Monteiro e revisada por Mundo Sombrio.
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