Meu nome é Davidson, moro em Juiz de Fora MG desde que nasci, participo de um grupo de amigos entusiastas de pescaria e uma boa caça. Certa vez num mês de outubro pelo que me lembro, por volta de 2003 decidimos organizar uma de nossas aventuras.
Estávamos em cinco (que tratarei pelos sobrenomes Tavares, Oliveira, Barra e Rezende) amigos e como sempre munidos de nosso equipamento e algumas armadilhas rudimentares de caça, nos equipamos e fomos para um lugar na zona rural da cidade, próximo a um bairro chamado Monte Verde havia um local onde nós costumávamos frequentar o qual chamávamos de marimbondo, por conta das muitas caixas do inseto que se depositavam numa pedreira local, (onde hoje está localizado o vertedouro de agua e a caixa de força da Usina Hidroelétrica de Picada). Chegamos por volta das três da tarde montamos nosso “acampamento” como de costume num banco de areia às margens do Rio do Peixe que banha a região, ajeitamos alguma lenha para noite e começamos a pegar alguns lambaris para pegarmos talvez peixes maiores à noite (traíras e piau principalmente).
Logo o entardecer virou uma bela, escura e fria noite de lua nova, nenhuma claridade a não ser, a da fogueira e das lanternas de nossos famigerados Nokia 1100 que durava uma eternidade e clareavam quase nada. Nos pontos mais distantes da fogueira podíamos contemplar um belo céu noturno completamente estrelado. Depois de terminarmos os preparativos e nos acondicionar espalhamos as armadilhas para quem sabe sermos agraciados com uma bela paca pela manhã.
Então Tavares e eu espalhamos os três trabucos (armadilha que se consiste de um cano montado a uma ratoeira, que é capaz da disparar esferas de metal) e algumas outras arapucas. Oliveira, Barra e Rezende terminavam de ajeitar as lenhas e preparar uma gororoba pra podermos comer algo. Uma vez armadas as armadilhas ofereciam risco real até para nós então nos mantemos dentro do perímetro delas para não nos machucar.
Ao beirar das dez da noite quando o silêncio era quase palpável e cada um estava em seu canto pescando sossegado foi que as coisas começaram ficar estranhas. Um barulho estranho rodeando a mata atrás de nós insistentemente começou a nos incomodar, o fato de termos armadilhas no mato nos deixava mais tranquilos, até o momento que percebemos que o barulho vinha de um ponto a frente das mesmas, Barra e Oliveira foram até a borda da mata mas ao se aproximarem o barulho desaparecia, e assim foi durante toda a noite.
Mantínhamos a cabeça na pescaria pois até então estávamos indo bem, pegamos algumas traíras e alguns bagres e eu como sempre umas duas ou três sarapós, até que por volta da uma da manhã algo estranho aconteceu, não havia vento soprando, até mesmo a água parecia ter cessado o som, um silencio profundo no ambiente nos permitia ouvir apenas o som da lenha estalando na fogueira que a tal ponto emitia um luminosidade muito baixa, então começamos a ouvir o mato quebrando e se arrastando na borda da mata, e podíamos ver as folhagens se mexendo. O pânico tomou conta de nós que ficamos beirando a fogueira com um facão e uma machadinha à mão para o caso de qualquer eventualidade (acreditávamos que poderia ser algum animal à espreita) essa espera velada durou até que o sono começasse a bater. Então Rezende e Tavares voltaram à margem do Rio, Oliveira e Barra foram dormir e eu fique de costas para a fogueira e de frente para a mata, observando e lutando contra o sono.
Finalmente cedi ao sono e não mais aguentando dormi ali mesmo sentado no chão com os braços apoiados no joelho e de cabeça baixa.
Acordei em um susto tremendo quando ouvi Resende gritando “SAI DAÍ, SAI DAÍ” e correndo em minha direção por volta das três da manhã com os gritos me virei na direção dele olhando pro Barra e pro Oliveira que estavam na barraca atrás de mim com uma expressão de pavor e quase brancos de medo, ao virar escutei o som dos passos de algo que corria da areia para a mata partindo de mais ou menos dois metros de mim. Levantem num pulo com o facão na mão olhando para a silhueta alta de forma indefinida que corria de volta pra mata exalando um cheiro quase que insuportável como o de um bode. Desse momento em diante não conseguimos mais dormir, os peixes nem beliscavam mais desse ponto pra frente, sentíamos a aura de algo maligno no ar e os sons no mato não paravam, agora parecendo vir de mais de um ponto ao mesmo tempo. Ficamos ali na vigília formando um circulo e de costas uns para os outros até o raiar do sol.
Assustados com toda a situação esperamos até que a luz do sol pudesse clarear todo o banco de areia, que revelou rastros estranhos de onde a tal criatura correu de minha direção de volta para a mata. Logo depois de preparar e tomar o café Tavares e eu voltamos às armadilhas para recolhê-las e nos estarrecemos ao descobrir que o rastro passava por todas elas sem ter ao menos disparado nenhuma, os fios de nylon que prendiam os gatilhos dos trabucos estavam estranhamente queimados como se uma chama tivesse os rompido, as arapucas estavam completamente destruídas e as iscas perfeitamente posicionadas onde as deixamos. Ao voltar ao acampamento decidimos arrumar as coisas e sair dali o mais rápido possível. Depois disso voltamos a nossas casas e nunca mais voltamos a pescar e caçar nesse lugar , até a construção da usina. Conheço um dos vigilantes que trabalha por lá e ele me disse que ainda hoje nas noites sem luar é desesperador ficar lá durante a noite pois existe uma presença perturbadora no lugar e nem mesmo os cães ousam passar próximos das cercas nessas noites.
Relato Sobrenatural enviado por Davidson