Brincando de Evocar Espíritos

por Mundo Sombrio
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Me chamo Bernardo, e o relato que vou compartilhar com vocês aconteceu entre a madrugada e manhã do dia 21 de fevereiro de 2004. Era inicio de ano letivo e estava entrando na 8ª série do colegial. Lembro muito bem da data, pois era o dia do meu aniversário e queria comemora-lo em grande estilo. Só que nunca imaginei que as coisas fossem sair completamente do controle.

Sempre fui muito popular na escola, tinha muitos amigos e todos queriam andar comigo, estava longe de ser o melhor aluno da classe, mas tirava notas suficientemente boas para não reprovar, fazia questão de me dar bem com todos os funcionários do colégio, talvez como uma maneira de manipula-los e evitar punições severas a deslizes que cometia aqui e acolá, como “matar” aula por exemplo.

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No começo “matava” aulas por pura preguiça, mentia para meus pais que não estava me sentindo bem e ficava em casa dormindo até tarde. Depois de um tempo percebi que faltar aula poderia ser bastante divertido, principalmente depois que conheci Talita. Talita era de origem Argentina e tinha se mudado para o Brasil ainda pequena. A verdade é que tínhamos uma química tão forte que ela se tornou minha melhor amiga da noite pro dia. Minha mãe a detestava, a olhava como se tivesse olhando para uma barata. O fato dela ter reprovado o último ano do colegial várias vezes, a falta de comprometimento com os estudos e o modo como se vestia também ajudou no julgamento.

Por sorte ou azar, começamos a estudar na mesma instituição e mal sabia que aquilo iria significar a minha total ruina. Através dela conheci novas pessoas e comecei a entrar em seu universo paralelo, universo por assim dizer, sobrenatural. Talita era viciada em histórias de horror, carnificina, tinha fascínio pela morte em suas mais variadas formas e principalmente por suicídios.

O meu aniversário se aproximava e queria comemorar meus 14 anos de uma forma completamente diferente, inusitada, e minha doce Talita surgiu com a ideia de irmos de madrugada para o cemitério “brincar” de evocar espíritos.

— Meu querido Bernardo, meu amor, esse ano iremos festejar seu “cumpleaños” na companhia de umas 5 mil pessoas. Disse Talita.

— Eu sei que sou popular, todo mundo gosta de mim, mas convidar todo o colégio para minha festa é demais, quero algo bem simples e intimista.

— Deixa de ser retardado, vamos comemorar seu aniversário naquele cemitério perto da casa do Ian, aquele antigo, construído por escravos, e cheio de relatos sobrenaturais.

— Nem pensar, nem pensar, nem pensar. Dizia eu, rindo e achando que se tratava de uma de suas maluquices.

— Estava pensando em reunir sete pessoas, tomar umas cervejas e depois brincar de evocar espíritos com a Tábua Ouija que ganhei do meu irmão, ela está novinha e precisa ser batizada. Mas antes de dizer qualquer coisa lembre- se que apenas sete pessoas podem participar da reunião. E aí, topas?

– Claro que não, endoidou de vez? Agora sai da minha frente que preciso entrar na sala, afinal de contas alguém precisa estudar por aqui né?

A principio relutei, chegamos a brigar, ficamos dias sem nos falar e quando faltava pouco mais de dois dias para o meu aniversário a procurei, fizemos as pazes e começos a organizar a lista de convidados. Mas uma coisa ficou martelando diversas vezes na minha cabeça… ‘Por que sete pessoas?’

O grande dia chegou, Talita bateu na porta da minha casa exatamente às 01h da manhã e disse para irmos correndo ao cemitério, pois antes das 03h30 o espirito já tinha que estar entre nós. Como sempre muito esperta, Talita não fez de rogada ao se relacionar intimamente com o segurança do cemitério, por puro interesse claro, e assim conseguimos entrar no local da “festa” sem dificuldade alguma.

Estávamos em sete; Talita, Ian, Nicole, Lucas, Aline, Nicolas e eu. Apertávamos-nos em cima de uma grande tumba de mármore onde jazia uma família inteira. Mãe, pai e filho. A tumba era bastante conhecida e visitada por se tratar de uma família que foi encontrada morta em 1995. Os corpos foram encontrados dentro do porta-malas de um veiculo. O crime nunca foi desvendado.

No começo da “comemoração” bebemos cerveja, vodka, ouvimos música, e Talita parecia estar mais interessada em ficar com o “namorado” na guarita do cemitério do que se divertir conosco. Quando o relógio marcou exatamente 03h da manhã, ela foi a nosso encontro e gritou bem alto dizendo que precisávamos nos preparar que o show iria começar. Eu era o único sóbrio, já estava arrependido e temia o que poderia acontecer, mas continuei, apesar de estar preocupado.

Talita pegou um pincel preto e marcou nossas blusas com um número, ela era o 7.

— Agora vamos nos divertir de verdade! Esbravejava com aspecto de quem tinha surtado.

— Muito bem, agora vou explicar um pouco da brincadeira e vocês irão decidir que rumo tudo isso irá tomar. Certo?

Estava em completo estado de choque, enquanto meus amigos riam e se divertiam, provavelmente por estarem alcoolizados e drogados, eu não conseguia esboçar reação nenhuma, estava paralisado, assistindo tudo aquilo e sentindo que alguma coisa muito ruim iria acontecer.

Talita começou a explicar as “regras” jogo:
“Para evocar espíritos do bem devemos rezar 10 Aves Marias e 20 Pais Nossos. Para evocar espíritos do mal devemos rezar 10 Aves Marias, 20 Pais Nossos e dizer sete vezes “Ao mal entrego minha alma”, e para evocar espíritos não humanos, aquelas almas que nunca estiveram em terra na forma humana, é necessário sacrificar um ser humano que você já tenha tido relações sexuais. (Adoro essa parte)” Explicou com um ar demoníaco.

Poucos segundos após a macabra explicação de como funcionava o jogo, o segurança do cemitério começou a correr desesperadamente em nossa direção, estava completamente ensanguentado e com um profundo corte na cabeça.

De repente, o pobre diabo caiu no chão e começou a repetir sete vezes “Ao mal entrego a minha alma”. Depois de repetir a frase ele não disse mais nada. Ficou parado por um tempo e depois se levantou completamente desnorteado sem saber o que tinha acontecido.

— O que está acontecendo? O que estou fazendo aqui deitado nesse chão? Que dor horrível é essa que estou sentindo na cabeça?

Talita se aproximou do “companheiro” e disse baixinho no pé do seu ouvido:

— Ao mal eu entrego a sua alma. E cortou sua garganta com um punhal.

Definitivamente não podia acreditar no que os meus olhos estavam traduzindo. Todos os meus amigos saíram correndo em direção à saída do cemitério temendo que algo acontecesse com suas vidas. Porém, fiquei, criei coragem suficiente para não fugir e enfrentei Talita:

— TALITA, O QUE ESTÁ ACONTECENDO? O QUE VOCÊ FEZ COM ESSE POBRE RAPAZ? TALITA, PELO AMOR DE DEUS, O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ? QUEM É VOCÊ

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Enquanto colocava Talita na parede ela simplesmente chorava, me abraçou forte e disse que não sabia o que estava acontecendo e que quem estava no seu corpo era outra pessoa.

Entre lágrimas e desespero, Talita começou a falar de forma engraçada, a voz ficou grave, rouca, era como se outra pessoa estivesse falando em seu lugar.

— Talita Bracamontes já não habita esse corpo há mais de 10 anos seu idiota, aquela garotinha ridícula que só sabia fazer xixi na cama e comer feito uma porca está sendo estuprada no inferno nesse momento. Eu comi cada pedacinho daquela alma deliciosa!

Depois de presenciar a pior cena da minha vida, perdi a consciência. Foi a última coisa que vi e ouvi naquela madrugada. Acordei na manhã seguinte na cama de um Hospital Psiquiátrico acusado de ter matado o segurança do cemitério com uma punhalada no pescoço.

Com a ajuda das pessoas que estava no cemitério, fui condenado a prisão perpetua por homicídio triplamente qualificado. Também fui condenado por assassinar meus pais horas antes de sair para o cemitério.

Por algum motivo que desconheço, meus melhores amigos disseram para os policiais que eu tinha sido responsável por todas as mortes. Eles nunca tocaram no nome da Talita. Nunca tocaram no nome da Talita porque Talita nunca existiu.

Ano passado recebi a noticia que eles morreram carbonizados em um acidente de carro e levaram para o tumulo o verdadeiro relato de tudo que tinha acontecido naquela madrugada.

10 anos se passaram. Estou no corredor da morte esperando a data da minha execução ser agendada pela Justiça. Todos os dias antes de dormir, consigo ouvir a voz da minha querida Talita me chamando para conhecer o Inferno.

História de Terror por EriqueLima

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