Ultimamente tenho me distraído com facilidade, devido a correria do dia-a-dia. Numa dessas distrações, quase bati o carro. Foi por pouco. Minha desatenção quase resultou numa tragédia.
Quando cheguei em casa, comecei a contar o ocorrido para meu marido. Enquanto contava, senti como se eu estivesse flutuando. Era como se minha alma se desprendesse do meu corpo. Enquanto ele conversava com meu esposo, minha alma vagava pelos cômodos do apartamento. Eu ouvia minha voz distante, quase inaudível.
Quando tentei retornar ao meu corpo, fui rejeitada por ele, que continuava conversando com meu marido, mas sem minha alma. Como isso é possível? Eu tentei a todo custo recuperá-lo, mas continuava a me rejeitar. Numa tentativa desesperada de ter meus movimentos de volta, empurrei meu corpo para que ele se desequilibrasse, assim eu poderia possuí-lo de novo. Meu plano funcionou.
Meu corpo se desequilibrou, mas tropeçou num dos brinquedos do meu filho. Pude imaginar minha cabeça batendo na quina da mesa. Seria uma pancada muito forte. Provavelmente, eu desmaiaria e continuaria sem ele.
Então, mais que depressa, aproveitei a distração para possuir meu corpo de uma vez por todas; e consegui, mas tragicamente não consegui me sustentar naquele corpo, que parecia não ser mais meu.
Bati a cabeça na quina da mesa e atordoada, cambaleei até a sacada, e desequilibrada despenquei do décimo andar.
Durante a queda, vi minha vida passar. E como vivi bem. Mas não queria estar passando por isso. Poucos metros antes de cair, já não conseguia respirar e, antes de senti-la, pude ouvir meu marido batendo palmas, estalando os dedos e me acordando, pois peguei no sono enquanto contava sobre o acidente de carro.
— Amor, consegue me ouvir? Perguntou ele.
História de Terro escrita por Regis Di Soller