Desde pequena, Lavínia conviveu com situações de perigo. Letícia, sua mãe, trocava de namorado como quem troca de roupa e os levava para sua casa sem conhecê-los. Lavínia não conseguia entender porque tantos homens visitavam sua casa, mas seu pai nunca aparecia.
Quando adolescente, se apaixonou por um colega de classe, mas sua mãe proibiu o namoro, então desistiu de viver a primeira paixão.
Por volta dos dezesseis anos, Lavínia entendeu que os namorados que sua mãe levara em casa, na verdade eram clientes. Era assim que sustentava a casa. Se submetia à situações humilhantes para garantir o sustento de sua filha; e depois de completar quarenta anos, desistiu da profissão.
Todos os homens que entravam na casa de Lavínia eram violentos com sua mãe. Isso deixou a garota com medo de relacionamentos, uma vez que nunca conheceu o pai e os “namorados” da mãe eram desrespeitosos.
Com vinte anos, Lavínia assumiu o primeiro namoro. João era um rapaz inteligente e poderia ser um bom namorado, se não tivesse sido preso por tráfico. Depois da prisão do rapaz, Lavínia nunca mais o viu.
Meses depois de romper com o traficante, Lavínia conheceu Marcos e sofreu os primeiros abusos. Ele era possessivo, violento e tentava controlar sua vida. A garota temia se tornar tão infeliz quanto a mãe. Quando foi traída por Marcos, teve a oportunidade perfeita para acabar com a relação, e conseguiu. Depois do término, Marcos continuou com a amante, se casou e nunca mais traiu.
Assim como sua mãe, Lavínia atraía problemas. Suas amigas diziam que ela tinha o “dedo podre”. Como uma mariposa, Lavínia ia de encontro ao fogo sem perceber.
Depois de muito tempo sem namorar, Lavínia encontrou Gustavo, sua primeira paixão. Ela sentia que devia ter passado por tanto sofrimento para reconhecer quem realmente a amasse. E Gustavo sempre a amou, desde a adolescência.
Os dois se casaram e iniciaram uma linda história de amor. Lavínia, finalmente teria seu “felizes para sempre”. Felizmente ou não, o “para sempre” acabou rápido demais.
Gustavo se transformou depois do casamento. Era como se fosse outra pessoa. Era como se todos os ex-namorados de Lavínia vivessem em um único corpo. A garota apanhava quase todo dia e tinha que esconder os hematomas com maquiagem.
Numa segunda-feira, depois de um longo dia de trabalho, Lavínia só queria descansar, mas Gustavo queria descontar seus problemas na esposa.
Enquanto o marido a xingava, Lavínia foi até a cozinha, pegou uma faca e começou a preparar o jantar. Durante o preparo, tentou se desligar do mundo. A voz de Gustavo ficava cada vez mais distante. Então, de repente, Lavínia sentiu o pescoço arder. Seu marido havia tomado a faca de sua mão e a cortou. Ele estava fora de si e ela sentia que estava morrendo. Com toda a força que tinha, apoiou-se na pia da cozinha. Sentiu um cheiro muito forte de gás e antes de levar mais uma facada, acendeu um fósforo.
A explosão foi rápida. Em poucos minutos a casa foi tomada pelas chamas.
Quase morta, Lavínia pode contemplar a morte de seu marido e, enquanto sentia o fogo consumindo seu corpo, encontrou a paz que nunca teve.