Após atravessarmos um cruzamento de uma antiga ferrovia, a cidade de Campos ficou ainda mais visível. Íamos ficar lá por cerca de umas três horas, só tínhamos que deixar uma encomenda de bolo e voltar para Carabuçu ainda naquele dia.
– Sabia que quando venho aqui, sinto vontade de não voltar mais pra nossa cidade. Tenho vontade de ficar em uma maior como esta? – Fabilla sorriu e beliscou meu cotovelo.
Ela adorava me ver aborrecida e, no fundo, eu sabia que era quando ela ficava ainda mais empenhada, apesar da nossa relação meio conturbada. O fato de termos ido morar juntas sem a autorização de nenhuma das duas famílias pelo fato de sermos lésbicas, deixou as coisas ainda piores e, agora, temos de viver sob constante reprovação dos demais moradores de Carabuçu.
– Quando juntarmos dinheiro suficiente, poderemos nos mudar, não se preocupe! – Fabilla sorriu novamente e foi mexer no celular enquanto eu estacionava em frente a casa da nossa cliente mais fiel.
Todos os meses ela encomendava cerca de 43 bolos e tortas, pois ela tinha uma empresa de buffet e adorava a qualidade do nosso serviço.
Entregamos tudo, recebemos o pagamento, passamos no mercado para comprar alguns mantimentos que estavam em falta e depois fomos em direção à nossa querida roça. Já eram umas 18h quando finalmente chegamos ao trevo de Carabuçu. Fabilla havia pego no sono e um céu alaranjado coloria o nosso caminho. A tarde estava linda, mas eu teria de me adiantar caso quisesse chegar em casa antes de escurecer já que, por insistência dela, fomos morar na área mais afastada da roça, local onde sequer pegava celular ou televisão.
Passei pelo centro de Carabuçu com a noite já caindo. Quando adentrei a estrada de barro que levava até nossa casa, a escuridão já era quase absoluta, exceto pela lua e o farol do meu carro.
O dia tinha sido difícil, passamos a maior parte do tempo sentadas no carro, mas tinha valido a pena, pois conseguimos outra encomenda com uma padaria de Campos e, aos poucos, nosso negócio ia crescendo.
Quando passamos pela lagoa que havia próximo à nossa casa, eu ouvi um barulho vindo da água e achei estranho, afinal não havia peixes ou outros animais ali para que tal barulho fosse justificado.
Desci do carro e deixei Fabilla que essas horas já estava quase babando de tanto dormir. Fui me aproximando da lagoa e desci o pequeno barranco que tinha na margem. Confesso que a curiosidade era meu maior defeito e eu sempre me coloquei em perigo por causa disso, mas era inevitável.
Me aproximei da lagoa, olhei e não tinha nada. Então me virei e, quando ia subir o barranco para voltar para o carro, uma voz doce soou atrás de mim.
– Eduarda?
Virei assustada e me deparei com a coisa mais extraordinária que já tinha visto na minha vida: uma mulher nua, com o corpo escultural e cabelos negros que corriam em cachos até a altura de seus joelhos. A coisa mais impressionante, era como sua pele brilhava, parecia que havia purpurina sobre seu corpo.
– Como sabe meu nome? – Perguntei gaguejando enquanto tentava firmar minhas pernas que tremiam mais que vara verde.
– Não vou te machucar, muito pelo contrário
A bela moça se aproximou de mim e colou seu corpo no meu enquanto entrelaçava os dedos em meus cabelos. Então de repente, ela me beijou de uma forma doce e ao mesmo tempo desesperada, como se aguardasse muito por aquilo.
-Sempre vejo você e sua esposa juntas e eu quero experimentar com você assim como ela faz.
Ela abriu um sorriso largo e reparei que ela tinha dentes afiados como pequenos pregos. Eu estava completamente apavorada com a situação, mas meu corpo ficou a mercê de tanta beleza e sensualidade. Então me entreguei àquele ser deslumbrante e, depois que terminamos, prometi que retornaria na noite seguinte.
Por conseguinte, voltei para o carro e Fabilla ainda estava dormindo como um anjinho. Na noite seguinte eu voltei como prometido e continuei com as visitas noturnas por meses. Era um vício ficar com aquela moça maravilhosa que, em um de nossos encontros, me contou que se chamava Maria.
Com o passar do tempo, as visitas se tornavam mais demoradas e isso trouxe desconfiança à Fabilla, que me questionava todos os dias sobre meu paradeiro e, todos os dias, eu respondia coisas diferentes como: “estava no bar, na casa da minha mãe, o pneu do carro furou, a estrada estava bloqueada”. Até que um dia, quando voltava da rua, encontrei Fabilla na entrada da vala e, como não havia desculpas para voltar para rua, eu tive de ficar em casa. Então assim Fabilla fez por todos os dias seguintes, sempre me esperava na entrada da vala e eu sempre passava pela lagoa desejando rever Maria, mas não conseguia.
Certo dia à tarde, assim que voltei da cidade, reparei que Fabilla não estava na entrada da vala me esperando como sempre ela vinha fazendo. Então, uma preocupação me torrou a mente: “o que teria acontecido para ela não estar ali?”. Passei direto pela lagoa e entrei em casa casa. Assim que abri a porta, testemunhei a pior cena que já vira em toda minha vida: Maria estava sobre Fabilla terminando de devorar um de seus seios com a sala repleta de sangue e as entranhas dela espalhadas por todos os cantos.
As lágrimas começaram a rolar sob minha face e ajoelhei levando a mão na boca para abafar um grito de terror. Maria Olhou para mim com seus enormes olhos negros e abriu um sorriso vermelho emoldurado pelo sangue de Fabilla.
– Agora você pode ser só minha Eduarda – Maria disse enquanto secava o sangue em seus lábios carnudos.
Por minha luxúria perdi o amor da minha vida…
A História de Terror “Lagoa Maldita”, foi escrita por Contos de Ula e adaptada para o Mundo Sombrio
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